domingo, 1 de agosto de 2010

01/08/2010

Estou estendido em cima do sol
No dorso de um ramo da cerejeira.
Sou rubros caroços e o corpo mole
À suculenta brisa ligeira.
Sou sua recortada sombra serena
A viver esta tarde amena.

E sorvo o ócio num assobio.
Cumprimento todas as andorinhas
Sentadas em galhos dançantes.
Ouço suave o ressonar ao rio
Ouço as águas sonhar quietinhas
com vales dourados muito distantes.

Porque ao tronco bem amarrado
Dorme o tempo em cordas preguiça
Apanhado por ter tropeçado.
E a árvore canta movediça
Morosa sem pressa sonando
Canções de repouso inspirando.

Vem leve flutuando um odor
Não sei se de amoras, se alecrim.
Vem às asas de um cuco tenor
Que cucu dizendo, diz é jasmim.

É um perfume que não conhecia
Essência de calma alegria.

É uma tarde de tantas iguais.
O viçoso pomar soalheiro
Ou o ronronar dos animais.
São as cores a florescer
O prazer de um bocejo inteiro,
Um gato num galho que ri
Das cócegas que lhe faz crescer
Cócegas de não envelhecer.

O gosto de gatas dizer:
"Como outras, esta tarde vivi
Iguais às outras, não revivi"

Lambo o deleite, ruivo pelo
Esculpo as garras deste galho
E inebriado fico a vê-lo
Livre que sou de desfrutar.
Tenho o tempo do que valho
Mais que tempo sete vidas.
Passei esta tarde a olhar
Montanhas entretanto comidas.

A tarde de hoje foi que dia?
Não sei, estive a ouvir cantar
Há por do sol se o calendário acabar.
Não sei, mas à tarde vivi-a.

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