segunda-feira, 28 de junho de 2010

Wikipedia

No pico do verão
Houve lá fora nevoeiro.
Nem se via a janela.
(Mas eu não vi)

Rasgando a solidão
Um saxofone interveio
Noite quente e bela.
(Mas eu não ouvi)

Cheira salgado ao mar
E à brisa que o traz
Em murmúrios de um riso
(Mas eu não cri)

Uma senhora anunciar
Sumo fresco de ananás
Dos frutos do paraíso.
(Mas eu não bebi)

Fiquei em casa sentado
A pesquisar tudo isto
O sabor de um gelado
A história de Cristo.

O que conheço do mar
É de saber pesquisar
Na biblioteca do navio
Onde em viagem m'avio.

E o que sei de viver
É de em livros o ler
O balançar de um baloiço
Que vazio não oiço.

Querer

O dia em que não me levanto
Das carícias da cama
E o desperdiço a um canto
A guardar o colchão
A esperar se me chama,
Quando me deito cansado
Lembro amnésia de si.
Lembro tudo o que vi
Uma porção de nada
Mão cheia de escuro
Outra hora aguada
Nem vislumbre futuro.

E quando me levanto
Já de dia seguinte
E o gasto a um canto
Perdido num pranto
De nada viver,
Continuo a não saber
O que faz para querer.

sábado, 26 de junho de 2010

Em preguiça e por sono
(Porque sou d'alma preso
E dela pouco dono)
De candeeiro aceso,
Faço a cama a quebrar
Só antes de me deitar.

E durmo em rangidos
De sonhos interrompidos
Pelos vincos nos lençóis
A acordar sem sóis.

Toda a noite acordar.

Como sarar uma ferida
Só antes novamente
Cair de mão estendida
Que nem o sangue sente.

É como se esforçar
Só antes de desistir,
A sirene a tinir
Comigo a planear.

Quando em fim me deito
Depois da derrota dia
A cama cheira a leito
Onde hei-de acabar
Entre crosta de sangue
E os sonhos que queria
Se a tempo me levantar.

Abafar de um bangue.

É como acolher uma bala
Antes de ter feito a mala.





PUUM!

domingo, 20 de junho de 2010

Ser ideal

Hoje veio-me visitar
A minha vontade ser alguém
E saiu por onde entrou
Horas de planos passadas.
Ficaram parecendo tão bem
Duas cervejas ninguém tocou
Um monte de roupa por lavar
Atrás de portas fechadas.

De resto, aconselhou-me o ideal.
Lavei a roupa e cheirava mal.

Vende-se amante

Vendo jovem amante
Ainda em bom estado.
Boa-disposição constante
E apoio permanente
Sem se ver enciumado.

Sem qualquer condição
-Mais que sincero romance
-Ser firme numa mão
-Tocar piano regularmente
-Pedir em voz que não canse
-Em quatro línguas experiente
-Flexibilidade espargata
-Ter lido de livros milhar
-E ainda assim pensar por si
-E trazer uma desiderata
Para se poder sempre entender.
-A alegria de quem se ri
Porque tudo pode ser engraçado
-Entrar em jogos sem sentido
-Ostentar soutien apertado.
-Gostar de segredos ao ouvido.

É simples, a não perder.
Basta ser a primeira a ligar
Para preencher tão bom lugar!

(Estou pronto para atender
Há uma década já passada
Os sonhos de uma chamada)

(Sentado imediato ao telefone
Selectivo sou só mirone)

:p

Abre o armário por detrás do espelho
E procura neuróticas entre os frascos
Aquele que tiver o rótulo vermelho.
Para que não falhes e vivas fiascos,
Despeja-o todo na tua vontade de fugir.

Assim não há forma de falhar suicídio.
Falta só forma de gravares um vídeo
Para que eu em casa a ver me possa rir.

E quando souberes em sirenes a asneira
Que apenas terás tão forte caganeira
Aí sim eu vou imaginar-te a sucumbir.

sábado, 19 de junho de 2010

keep dreaming

Hoje não tenho nada a dizer.
Andei a desperdiçar o dia
A carregar livros para a sala
E os tornar iguais a trazer.
Enfiei toda a roupa na mala
Para ver lugares que não sabia
E instalei-me no corredor.

"Realmente", pensei no chão sentado
"Nunca tinha olhado esta parede
Nunca achei que tivesse valor.
E hoje aqui fico parado."

Andei pela casa a dizer "vede"
De qualquer possível perspectiva.
Perguntei à porta se estava viva
E não respondeu como quem consente,
Fechei gavetas e abri-as
Com um "com licença" decente
Para confirmar que estão vazias.

E porque ao fim deste dia
Não há nada que não havia,
Há só o silêncio frenético
De meus passos circulares
Num tédio nulo cinético,
Não tenho mais nada a escrever
Do que impávidos esgares.

Então para quê a verborreia
Se não há nada para contar?

Porque para erguer uma teia
São precisos tantos traços
Quantos possíveis forem tear.
Necessários tantos braços
Quantos se possam manobrar.

Não tenho nada para contar
Mas posso aprender a falar.

E porque um dia, já tão tarde
Um poema oco de presença
Pode ser o grão que me guarde
De fazer toda a diferença.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Já posso abrir?

Amanhã cedo de manhã
Acordando assim molhado
Podia de esperança vã,
De ver ainda desfocado,
Entrar bocejo na cozinha
E ver-te lá a ti sozinha
Sentada com uma torrada.

Estenderias uma fatia
E eu olhando não creria.
Eu olhando tanto queria.
De vestido de dormir
Calmo branco de repouso
De esperares a sorrir,
Alta, baixa, quadrada.
E beliscaria se ouso
Esfregando bem a visão
E quando tirasse a mão
Lá estarias tu sentada.

Podia eu olhar prá frente
E surgires num repente.

Podia, mas qual era a piada?

VIVE!

Abre a janela!
Abre-a num rompante
Pra que te ofusque a claridade.
Vês um barco à vela
No mar calmo que imaginas?
Podes ser um navegante
Com jornal e a vontade
Dobrando as folhas finas.

Atira a tua nau!
Atira-a sem pensar
Do teu porto parapeito.
Vê-la a planar
Com notícias dia mau?
Vê como cai a direito
Pelo vento liberdade.
Naufrago mas de vontade.

Vês o sol ao fundo
A marcar o horizonte?
Sabias que um segundo
A fazer à vida ponte
Somado com outros tantos
Que não quiseste gastar
Dava pra encontrar os cantos
Do globo viajando nadar?

Faz tudo o que ousares
Pra que memorável venha a ser,
Para um dia recordares.
E se nunca te vier a esquecer
É porque valeu a pena
Não seres testemunha pequena.

Vês o outro lado da rua?
Lá bate o sol do fim da tarde.
Porque é que à sombra rastejas
Se a luz pode vir tua
De um sorriso que te guarde?
Se é tão fácil seres brilhante
Basta um jornal que vejas
E o coração como quadrante.

Atravessa a estrada.
Mas não na passadeira.
Pousa o protector
Deixa essa sombrinha
E repara no fulgor
Com que se ri atordoada
A luz do sol, a cegueira
Se a não deixas sozinha.

Tu que gostas de desenhar,
São vermelhas as ondas do mar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Play

Vi um filme a teu lado,
História de final feliz,
De amor assim partilhado
Como um verbo que se diz.

Mas estava eu interessado
Em assistir só ao romance
Simples, longe do meu alcance.

E numa cena de tristeza,
(Éramos nós só compaixão,
Era uma lágrima acesa)
Encontrei-me à tua mão.

Quão cálida mas suave.
Aconchego de céu de seda
Borboleta ou voo d'ave
A forma de uma labareda.

Estarrecido agarrar
Mergulhando em tua palma.
Que filme estava a dar?

Como dar os dedos da alma.

Há tanto tempo mal olhando,
Vi-te pela primeira vez.
Vi-te bela iluminando,
Vi colorido como vês.

Perfume, doce algodão,
Escada pra longe do chão.

Li-te imaginando as linhas
E soube quanto me tinhas.
Lembrando dava comichão.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

macaca


há tanto tempo jogamos juntos à macaca rindo
mandando pedras prá frente pra pular o caminho
a contar segredos sobre as árvores e este rio

e ajudando mas caindo
ambos sempre empatamos
a corrente dum arrepio

combinamos à apanhada que não haveria sozinho
e de mãos dadas fomos cada um para seu lado
num macaco de chinês onde o proibido é parado

e quando surgia tristeza
gritavas d'outro planeta
não percas a tua certeza
e eu guiava o meu cometa
agora uma flecha m'invade
a brincar dizer a verdade

sábado, 12 de junho de 2010

48

Era tão bom que um dia
Vindo sereno durasse
Quarenta e oito horas.
Nenhum tempo que faltasse
E nada não se fazia.
Era aproveitar demoras.

Tanto tempo pra dormir
Pra fazer o de dever
E apreciando sorrir.
Tempo pra tudo viver.

E se os dias fossem do dobro do comprimento
Diariamente eu veria o por do sol,
Comporia versos sem pressa de os terminar
Estendido na cama sereno de corpo mole.
Sem que faltasse um só sonho que eu não tento.
Sem que houvesse despertador pra me levantar.

Se cantassem os meus dias tanta duração
Talvez com sono continuasse a acordar.
Talvez os versos fossem exactamente o que são.
Só mais tempo teria para os desperdiçar

Aleatoriamente

Historial de acções:

-Aberto o programa "planeamento_tarde"
-Escolhido o modo aleatório
-Play (00 min 00 seg)
-Estudar
-Forward (00 min 01 seg)
-Visitar tia-avó
-Forward (00 min 03 seg)
-Limpar casa de banho
-Forward (00 min 04 seg)
-Treinar p/ sonho
-Foward (00 min 07 seg)
-Recolher lixo @ chão rua
-Forward (00 min 08 seg)
-Resolver antiga zanga
-Forward (00 min 10 seg)
-Ajudar mãe trabalho
-Forward (00 min 11 seg)
-Arranjar fechadura
-Forward (00 min 13 seg)
-Comprar roupa
-Forward (00 min 14 seg)
-Jogar futebol
-Accepted (00 min 14 seg)
-Modo aleatório desligado
-Programa encerrado
-Computador desligado

sexta-feira, 11 de junho de 2010

árvore, criança, livro

Sim.
Devia plantar uma semente
Para uma árvore crescer um dia.
Sei, sei sim.
Sim, devia deixar à gente
Um livro, testemunho escrevia.
Sim.
Devia apaixonar um parceiro
Que me desse uma criança.

Sim.
Sei que devia o dia inteiro
Trabalhar na minha esperança,
Como explicam, assim e assim.

Mas o que devo eu a alguém
Para ter de deixar um menino?
E se eu gostar e fizer bem
Cortar um fio ainda mais fino
Porque não o farei todo o dia?

Ou desenhar um circulo quadrado
Ou encher e esvaziar uma pia?

Sim, será esse o meu legado.
Chovia.
A noite era tão escura
Nem a lua se podia.
Nem o sol nem a secura.

Nada se ouvia.
Só o silêncio que fazia
A chuva a esventrar os telhados.

Tombados.

Mas surgindo à solidão
De algum lado possível perto
Mas tão distante,
Ecoou o uivo de um cão
Um queixume desesperante
Por não haver ninguém desperto.

Não foi o silêncio quebrado.
O uivo da chuva esmagado
Era um pedaço do seu costado.

Tudo inundado.

E chorando se seguiram
Qual bater de um coração
Que não tardava a esmorecer.

As pessoas não ouviram.
O pesar da escuridão
Não deixava querer viver.

Talvez estivesse preso
Numa perna num arame
E puxasse, puxasse...

Talvez um carro ileso
O passasse, derrame.
E magoasse, magoasse...

Se calhar era o sonhar,
Se calhar só nostalgia.

Cessou o uivar.
Chovia.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cadeira

Porque era carpinteiro
De careca já clareira
Quis fazer uma cadeira
Pra passar o tempo inteiro.

Mas tornou-se entediante
A rotina de a fazer,
Reiterar uma maneira
De serrar cortar madeira
Sem que houvesse um sentante
Pra depois lá se estender.

E propu-la como pronta
Com uma perna lhe faltando,
Tinha três e uma ponta
Que cansei de ir lixando.

E assim só por experimentar,
Fui sentar-me no meu feito
Que comigo não durou
Mais q'um segundo e peito
Que caindo me rachou.

É tão fácil começar...
O sucesso é acabar!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Aposta perdida

"Vamos jogar um jogo", disse eu.

E tu disseste: "um jogo qualquer?"

"Não, vamos jogar um jogo meu"
"Farás tudo o que eu assim fizer
E se não, farás só o que eu disser,
Se recusares, farás o que te der
E dás-me ordens a cumprir."

"Vamos lançar o dado à vez.
Se calhar um número par
Arrumo-te e vou desistir.
Se ímpar, tantos passos darei
Quantos que no dado vês.
O dado lança-se a pousar."

"Jogarei de olhos vendados
Darás corridas que não sei
À minha volta ou não voltar.
E quando abrir e te ordenar
O castigos que não me lembrar
Podes fazer renúncia ou assistir
Mas jamais te permito rir."

"Quando me matares a rainha
És obrigado a encontrar
As diferenças entre ela e mim.
Se não, tiro a espada da bainha
E antes de te trespassar
Fazes-te pedra papel tesoura"

"Se a mim for a pedra a calhar
A ti calha-te tesoura pra me embrulhar"

E tu disseste: "Concordo, vamos jogar
Porque só te guardo neutralidade.
Se eu ganhar, não mais hás-de chatear
Se perder, é um desporto naturalidade."

"Perdi" gritamos num tempo igual
Porque tínhamos ambos jogado mal.
Afastei-me do espelho e fui olhar.

domingo, 6 de junho de 2010

I chose to live

Sinto a porta do quarto arrastar
Do rumor presente da morte.
Está quase, é esta a nossa sorte
Diz-me, baixinho, hábil esperar.

Um reflexo relâmpago entrou
Entre os intervalos da persiana.
Tudo está calmo, sinto que vou
Ouço o desembainhar da catana

Espere, sei que temos de partir
É só o tempo de me despedir.

E abro a mesinha de cabeceira.
Foge pó, álbum de fotografias.
Volto após uma viagem inteira
De muitas noites mas tantos dias.

Fui um homem bem sucedido.
Fiz feitos de uma ovação mundial
E feitos me têm agradecido.
Fiz e provei da pedra filosofal.

Mas quanto esforço eu suportei,
Quanta dor indomável, aguda
Mordendo a língua eu aguentei!
Quanto neguei desistir sem ajuda!

A minha história foi só combater
Em nome do que sonhava obter.

Abro o álbum de recordações
E leio orgulhoso as legendas.
"Noite das vinte comemorações"
"Trigésimo prémio das lendas"
"Produção no ensaio de noventa"
"Visita a casa, praça de multidões"
"Com o presidente Coronel Buendía"
Folheio décadas, mão tão lenta,
Mas cada uma está vazia.

Não há nenhuma fotografia.

Talvez do trabalho não pausasse,
Não tive um amigo que as tirasse.

Não, não quero realizar o querer
Eu escolho simplesmente viver.
Mas já a porta rumor se abria...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

...Assim, no contexto daquele que deve ser o objectivo sumário da anabolismo progressivo dos nutrientes referentes à vida, destacam-se 7 enzimas. Todas elas catalisam reacções irreversíveis, ou seja, o produto não vai voltar a formar substrato no sentido inverso. A enzima marca-passo é a do ponto (1), a cínase do sorriso. É ela que, consoante a sua actividade, controla a velocidade de toda a via.

(1) cínase do sorriso: sorriso + ATP -> sorriso-P + PPi
(2) líase da alegria: sorriso-P + 3 palavras sinceras -> alegria-A1 + Pi + 3H20

A desidrogénase da alegria (3) é a enzima que promove a oxidação e consequente destruição da alegria-A1, sendo os produtos da reacção libertados no fluído da solidão, juntamente com ácido vazio ou vaziolato. Esta enzima está activa quando a líase da alegria é voluntariamente inibida.

(3) desidrogénase da alegria: alegria-A1 + NAD+ -> indiferença-A1 + NADH + CO2

Porém, existe uma via de salvamento para a indiferença-A1. É catalisada pela desidrogénase da alegria dependente de NADPH (4) Posteriormente, a mãos-dadas sofrem a acção de uma isomérase (5), convertendo-se em alegria-A1 de novo.

(4) desidrogénase da alegria dependente de NADPH: indiferença-A1 + NADPH -> mãos-dadas + NADP+
(5) mãos-dadas <-> alegria-A1

O processo de anabolismo continua, juntando-se alegria-A1 a D-B-escutar, reacção catalisada pela sintétase da D-B-ajuda (6). O D-B-escutar é um composto nutricionalmente indispensável, não é conhecida nenhuma via de sua síntese endógena. Em média, um indivíduo adulto de 70 kg necessita de 120 minutos de D-B-escutar por dia.
Por último, duas moléculas de D-B-ajuda, já na matriz da mitocôndria, juntam-se a uma molécula de acetil-Coa, gerando o composto último da via, o fraternil-CoA.

(6) sintétase da D-B-ajuda: alegria-A1 (4C) + D-B-escutar (2C) + ATP -> D-B-ajuda + ADP + H2O
(7) 2 D-B-ajuda + acetil-CoA -> Fraternil-CoA (8C)

Voar numa vassoura

E se encontrar a felicidade
No lixo à beira dum passeio
Dentro dos dejectos da cidade,
Em beatas queimadas, papéis
E latas entornadas a meio,

Se me brilhar a felicidade
De entre restos apodrecidos
Terei eu pretensões d'outros reis,
Asseados e desiludidos?

Não. Se alegria for varrer
Uma auto-estrada escura,
Avenidas hei-de percorrer
Mas nunca ruas da amargura

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Auto-estrada

               A4

Estação de serviço (Desejos) 2
Aplauso 12
N. Sra. da Perseverança 88
Vila Pouca do Esforço 100
Covil da Desistência 155
Vila de Átropos 169
Mondim dos sonhos 188
Gonçalo,

Fui à procura de ti porque não te estava a encontrar em casa.
Abri todas as gavetas do armário onde costumo guardar-te mas alguém deve ter-te tirado de lá.
Se chegares antes de mim, por favor telefona-me.

Gonçalo

Altitude II

Eu tento ser alto
Mas quanto mais salto
Mais falta saltar

E tentar acabar
O que ainda falto
É tomar o veneno
De ser mais pequeno.

Quieto, parado,
Anão, sossegado.

Altitude

Eu tento ser alto
O mais quanto posso
Subo-me e salto
E em cima dum banco
Desta perna que manco
No céu dedos roço

Mas tal peso trago
Aos ombros caídos
Corcunda tão vago
Que sou derrear
Pra não me espalhar
Num chão de gemidos

É atlas às costas
E sonhos na pasta
E as regras impostas
Os deveres na camisa
De forças tão gasta
O que querem de mim
Corrente indecisa.
E fés atreladas
Família mãos dadas
Os medos cintura
Lutas penduradas
Por fio que mal dura
Tarefas calculadas
Mentiras agarradas
Valores em malha
Tralha, tralha, tralha!

Quanto eu daria
Por tudo soltar
E leve levitar
Para o sol, o dia.

De mim despejar
Tudo quanto ronde.

Mas depois voar para onde?