sábado, 19 de junho de 2010

keep dreaming

Hoje não tenho nada a dizer.
Andei a desperdiçar o dia
A carregar livros para a sala
E os tornar iguais a trazer.
Enfiei toda a roupa na mala
Para ver lugares que não sabia
E instalei-me no corredor.

"Realmente", pensei no chão sentado
"Nunca tinha olhado esta parede
Nunca achei que tivesse valor.
E hoje aqui fico parado."

Andei pela casa a dizer "vede"
De qualquer possível perspectiva.
Perguntei à porta se estava viva
E não respondeu como quem consente,
Fechei gavetas e abri-as
Com um "com licença" decente
Para confirmar que estão vazias.

E porque ao fim deste dia
Não há nada que não havia,
Há só o silêncio frenético
De meus passos circulares
Num tédio nulo cinético,
Não tenho mais nada a escrever
Do que impávidos esgares.

Então para quê a verborreia
Se não há nada para contar?

Porque para erguer uma teia
São precisos tantos traços
Quantos possíveis forem tear.
Necessários tantos braços
Quantos se possam manobrar.

Não tenho nada para contar
Mas posso aprender a falar.

E porque um dia, já tão tarde
Um poema oco de presença
Pode ser o grão que me guarde
De fazer toda a diferença.

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