terça-feira, 24 de agosto de 2010

Tudo acabou bem

Havia um velho ditado
Ja tão velho quanto experiente
E nunca foi contrariado
De tão rabugento indigente.

Canta quem o tem contado
(Quem acrescenta também)
Que ele nunca foi terminado.
Que tudo está assim bem
Quando tudo acaba tão bem.

Mas nunca acabou alguém
Com boca para confirmar.

Entretanto o ditado morreu
Com a força do tempo a passar,
A pressa da cidade o esqueceu.
Terminou e acabou bem.

William, que suando o teceu
Não o pode voltar a criar.
William hoje vive bem.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Urso-do-deserto

Entrei na caverna da estivação,
Sou um urso do deserto.
Rasga-me os ossos o verão
E o sol de raios dilacerantes
Desfaz-me o querer a descoberto
(Perdi a pele num cacto presa).

Entrei na caverna da estivação,
Poupo miragens mirabolantes
De me ver a ter certeza.

E aqui ao fresco antecipo
O caminho que tenho a fazer
Com um oásis às carrachulas
(A água enfiada num pipo
E o tempo em que terei mulas
A andar e eu a merecer).

Porque o suor dá muito trabalho
Dá tanto como dobrar estas dunas
À procura de um simples carvalho.

Antecipo caravanas, colunas
De fiéis seguidores a seguir.
Um urso de peito inflamado
(O feito lá virá a seguir
Nas cascavéis de uma ovação)
Com peruca de pelo e de brio.

Espero sobreviver ao verão,
Escondido resistir a este frio.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ori

Qualquer feito que eu faça
Feito foi milhentas vezes
Mais milhentas por contar.

Visto invento a carapaça
Inventada tantas vezes
E ouso não a carregar.

Inventei assim o lar.

Já está tudo registado
Estão rochedos e corais
Pedaços da face da lua.

O que falta ser contado?
O que há para dizer mais
Que não se veja da rua?

Porquê ser o inventor
Da carapaça de pousar?

Nem quieto me vou por
Já um anónimo qualquer
Se lembrou de vegetar.

A ideia que Ele me der
Nem a hei-de já tentar.

Vou ficar na carapaça
A ver filmes que fizeram
A ouvir coisas que disseram
Enquanto a vida não me passa.
Devagar, sem o dar conta
Perco o gosto do que gosto.
Perco o norte e perco a ponta
Desta lápis por estrear.

Como um céu que foi deposto
A aprender a flutuar.

Perco o querer de ser um gosto,
De me chamar o que me agrada.
Já não sei que nome trago,
De onde venho, para que estrada.

E sou feliz sinceramente
Quer me seja negro o fardo
Quer clara tenha a mente.

Tanto dá que a guerra vença
Ou a paz na desavença.

Minha alma é indiferença.

E sentado, onde calhei estar
Sinto a terra que não pensa,
Que se pensa dá-me igual.
E se um garfo me falar
Se me amar um avental
Eu encolherei os ombros
Porque um garfo é só normal.

Passe um lápis a voar
Caso o lápis tenha ponta
Hei-de olhar sem ele dar conta
Hei-de querer o desejar
E encolherei os ombros.

Oh, já tão morto, morto estou!
Quem me tira destes escombros
De futuros que ruíram
E descobrem quem eu sou
Para eu saber quem viram?

Eu encolherei os ombros.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A creditar

As coisas sabem-me mal.

Correr sabe-me mal
E o suor não sabe a sal,
Sabe a podre e a cansaço.
Nem bem sabe um abraço
Sabe ao mofo de perder.
E até a água tem sabor
O de vazio, mal sacia.
Ao que me sabe viver?
Sabe a áspero, a um favor
Que faço e venho a fazer
De vazio, mal sacia.
A minha cama vazia
Sabe a uma cama vazia
Sabe ao mijo que perdia
Quando sonhar era ser.

Sempre fiz xixi na cama.
Agora assim cresci
E crescer não sabe a nada.
Nem dormir já sabe a cama.
Nem as coisas que já vi
Quando via escancarada
A vista por gostar.
Já nem o mijo sabe igual
Sabe pior, mas sabe mal
Sabe a não me importar.

Há tempos trinquei um limão
E cairam-me os dentes
(Nem notei, a dentição).
Se já nem cartas rasgo
Nem sorrio a queridos entes
Nem me sabe nem me engasgo;
Se já nem unhas tenho
Para roer pela novela
Que já nem me entretenho;
Nem tempo a esperar por ela
E morder-lhe ousar pescoço
Encher baldes diferentes
Para tentar descer um poço
Pra que é que quero os dentes?

Aliás, levem-me já também
O corpo que me deu minha mãe.
Assim não finjo que vagueio
De olhar posto no chão
A contar pedras do passeio
E a voltar confirmação.

Contar sabe-me a bolor.
O que me interessam os passeios
E quantas pedras há-de ter?
Fosse ao menos explorador
De passeios intrasponíveis
Como foi Brito Capelo.
Ai se eu me pudesse perder
Em esquinas mal possíveis
Com mapas brancos terríveis
E botas perecíveis
E mais rimas com íveis
Para que ainda me saiba pior
Imaginar-me Roberto Ivens.

Mas o que é que queres descobrir
A escrever dúzias de poemas?
Mais letras por ouvir?
A dona frase e seus problemas?
Querias escrever um romance.
Querias ser um narrador
Que mais durasse que um relance
E apertar a mão a Salomão
E sentares-te à sua beira
Indiferente se o tempo passa ou não.
Querias ser um narrador
Sem passar do Bojador, quanto mais dor!,
E sentares-te à sua beira
Sem uma ideia, uma maneira?
Um plim de uma ideia?
Nem uma estrofe bonita ou meia?

As coisas sabem-me mal.

Falta-me uma pitada de imortal,
Um épico em colher de chá!,
Falta-me um nadinha de lendário,
Falta tudo o que não há.
Falta-me ser um ser ao contrário
Para que alguém ao passar algum dia
Se lembre de me tirar uma fotogragia.
E a sopa espalhada no chão
Nem insossa nem magistral
É um jantar a água e pão.

Mas perdoem-me, meu senhores.
Eu fui talhado para gravar a história
Fui marcado para firmar a memória.
Sou da fibra dos avôs navegadores
Que quando se lhes acabou o mar
Escolheram içar as velas e saltar.

E saltando inventar
Especiarias, Adamastores.

Sou do tecido dos Argonautas
Carrego a cruz das cruzadas
Sou como as linhas das pautas
Escrever direito nas erradas.

Notas de harpas abençoadas.

E minha pele de Aladino
Saltando as noites mil e uma
Caso o meu dedo pequenino
Bata na esquina do sofá
Inchará, verterá espuma
Como a unha de um majará
Sangrará e cairá
Como unha qualquer uma.

(Perdi as unhas há muitas cadeiras)

Então e a matéria dos imortais
O tal éter das Evas primeiras?
Então as unhas dos sem iguais
Também traem a apodrecer?

Minha pele é Deuses ar
Do paraíso e puros frutos.
Mas não é de Deuses ar,
É por eu acreditar.
Mas não basta acreditar.
É preciso acreditar mais que cinco minutos
Depois de começar a acreditar.

1 DDCAA
2 DDCAA

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Planos rasgados

Ouvindo leigo um violino
Faria uma fabulosa sinfonia.
Mas surgia tango argentino
Seria uma lenda dançante
E Mozart já morto esquecia.
Assisti porém a desfilar.
Qual mais belo semblante
Mais que o meu fascinaria?
E um escritor que me escreveu
Coisas de me apaixonar,
Decidi ser Horácio e Orfeu.

Quantos tijolos primeiros
Deixei espalhados no chão
Projectos de palácios cimeiros
Plantas de cada dia mansão.

E ninguém me disse que não.
Foi ver os céus a arranhar
E pensar logo outro lar.

E tudo o que deixei atrás
Foram estilhaços, pedaços
Rastilhos de desmoronar,
Cimento seco, parcas pás,
Foi um caminho sem passos
Porque é preciso caminhar.

Deixei o lixo, o abandono,
Os pilares entre o betão
Deixei vontade, caí o Outono
As folhas secas de ilusão.

Nunca uma flor colorida
Nasce entre cinzas sadia.
Cresce uma erva partida
Mortiça a só fumo sorvia.

Porque navegar tanto diz
Se já de porto não sais?
Ò vida, que sejas tu feliz.
Eu já vou tarde demais.

domingo, 1 de agosto de 2010

Argh

Há algo de
Veremelho
Que consome
Incandescente
Cada poro mais pequeno
Da pele.
Queima a fornalha
Do peito
Em excesso.
Alguém me deixou
Não sei quem
Uma telescópio
Em cima de mim
Apontado ao sol
O sol já nu
De desafiarem.
Fogo
Nasce um fogo
Na roupa.
Suor
Suor é o fogo da roupa
Combustível
Do fogo do que quer que seja mais
Menos alma.
Evaporou.
Alma?
Nem a mais imaculada
Resiste
Ao fogo dos infernos.
E ardem mim restos de alma
Pedaços igneos
Rastilhos
Estilhaços
Pela pele.
Cada poro mais pequeno.
Queria dormir
Sim
Dormirei
Como uma cruz de madeira
Numa fogueira.

01/08/2010

Estou estendido em cima do sol
No dorso de um ramo da cerejeira.
Sou rubros caroços e o corpo mole
À suculenta brisa ligeira.
Sou sua recortada sombra serena
A viver esta tarde amena.

E sorvo o ócio num assobio.
Cumprimento todas as andorinhas
Sentadas em galhos dançantes.
Ouço suave o ressonar ao rio
Ouço as águas sonhar quietinhas
com vales dourados muito distantes.

Porque ao tronco bem amarrado
Dorme o tempo em cordas preguiça
Apanhado por ter tropeçado.
E a árvore canta movediça
Morosa sem pressa sonando
Canções de repouso inspirando.

Vem leve flutuando um odor
Não sei se de amoras, se alecrim.
Vem às asas de um cuco tenor
Que cucu dizendo, diz é jasmim.

É um perfume que não conhecia
Essência de calma alegria.

É uma tarde de tantas iguais.
O viçoso pomar soalheiro
Ou o ronronar dos animais.
São as cores a florescer
O prazer de um bocejo inteiro,
Um gato num galho que ri
Das cócegas que lhe faz crescer
Cócegas de não envelhecer.

O gosto de gatas dizer:
"Como outras, esta tarde vivi
Iguais às outras, não revivi"

Lambo o deleite, ruivo pelo
Esculpo as garras deste galho
E inebriado fico a vê-lo
Livre que sou de desfrutar.
Tenho o tempo do que valho
Mais que tempo sete vidas.
Passei esta tarde a olhar
Montanhas entretanto comidas.

A tarde de hoje foi que dia?
Não sei, estive a ouvir cantar
Há por do sol se o calendário acabar.
Não sei, mas à tarde vivi-a.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

I will save your life

Venho sentar-me na calçada
Sob tua varanda, o luar.
E vejo-te de face pousada
(Face nívea por pintar
De maçã de rosto rosada)
Na palma estendida da mão.

Sentada sonhando à janela
Como será ter salvação
De ver estrelas a passar
Sem voar num braço dela.

Ouço-te astro a suspirar
A ver céu tão apagado
De halo num quarto fechado.

Posso escapar-te à prisão?
Deixa-me amparar-te o salto
Deixa-me levar-te constelação
Ao céu onde és lá do alto.
Para que possa anoitecer,
Para guiares navegadores
Para que a luz se volte a ver
Vinda do escuro onde fores.

De olhos redondos enormes
Querer mais ver, vê-me a mim.
Entrarei enquanto dormes
No odor doce de em sorriso.
Por favor acena que sim
Salva o céu de ser só liso.

Deixa-me salvar-te a vida.
Desce de ruivo agarrada
A nós de cabelo prendida.
Fujamos sem volta marcada.

Deixa-me salvar-te a vida.
Corramos sobre o limiar
Entre o céu e laranja mar.

Vem salvar-me.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Querio diário

Sempre que marco o diário
Com ontem-claro de tinta
O vento vira-me a página.
E eu sento-me ao contrário
Para que o vento não sinta
Que vou viver esta página.

Mas ele matreiro dá conta
E leve vestido de brisa
Vem uivar de outra ponta.

Então escondo-o na camisa
Amarrado entre os braços.
Não vou repassar o passado
Não vou repisar estes passos
Com tanto a ser caminhado.
Vou desfrutar deste vento
Vou sorvê-lo todo, violento.

Ele torna num urro investindo
A roupa ao corpo m'arranca.
Não! Guardo esta folha franca
Fechada na força da mão.
Ele rompe insiste investindo
Cravo-a na rocha do chão.

Nem que derrotes o mundo
Nem que lhe rasgues raiz.
Não vou atrasar um segundo
A folhas deste caderno.
Eu escrevo o que ele diz
Eu entorto-lhe as linhas
Eu encaixo-lhe o esterno.
Nem uma vírgula nem ponto.
Não quero memórias já minhas
Nem o final deste conto.

domingo, 25 de julho de 2010

Sou as mangas desfeitas
Da camisola que trago.
Sou aspas inperfeitas
De um sonho tão vago.
Sou o cerne de um engano.

Sou o labio defeito
Desta face que uso.
Sou a cama que deito
Num passeio obtuzo.
Sou a nódoa de um pano.

O borrão de um retrato
De um nobre fulano.
Sou as azas de um pato.

Sou os erros que sou
Por errar eu assim
Só perdido onde vou.
Sou o orgulho de min.
Quarto crescente
Do luar ao deitar
Meia laranja
De sumo a brotar
O sol a pousar
Já de rabo escondido
Arcada de entrada
E um arco da ponte
Virado ao contrário
O perfil de uma taça
Quase a entornar
Uma fonte murmúrios
Uma rede estendida
Em folhas de palmeira
Um monte ao revés
Uma concha sem par
Uma boca arqueada
De cúpido em flecha

O sorriso de um gato
Do país das maravilhas

Lu a

Tens um sorriso inteiro.
Todo o teu ser se sorri
Sem reticência, sem rodeio
Sem ter julgado primeiro
Se se deve, se conveio.

Da largura do rosto.
Do tamanho da lua
Deitado entre as estrelas
A conta-las, a vê-las.
Da brancura do rosto
Que olhando dá gosto
Que sorrias com gosto.

Um sorriso qual lar
Onde é tão bom sentado
Ser-se o sol a passar
No terraço à tardinha.
É um sorriso embrulhado
Numa folha fininha,
Gostas tanto de o dar!

Um sorriso canção
Comichão no umbigo
O cantar de um refrão
A sorrir-te contigo.

O teu simples sorriso.
Um teu céu azul liso.
De sabor de alegria

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Farol

Vem aclarando a madrugada,
Uma sombra atrás do nevoeiro.
E aguardo sem data marcada
O rugido de um barco cargueiro
Ou o remar de uma jangada.

Mas não vejo um palmo de nada.
Caminho afastando a neblina
De mãos estendidas já sem sina.

Quando, navegante encoberta
Quando te farás a este mar
Da tua longe ilha deserta
E tornarás a espera vã
Bom porto para nos atracar?

Volto a esperar-te amanhã.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

TV

Sentado em cima da cama
De mapa à parede colado
Apresento as novas do dia.
Pesquiso as coisas da fama
(Há muito as tenho sonhado)
À câmara montada de ar.

De fato meu pai aprumado
(Longo chega ao joelho)
Conto a guerra a estalar,
O homem que morreu de velho.

De voz ainda tão fina
Sonho ver-me a falar
Em mil visores espalhados
Na montra, numa vitrina.

E leio jornais recortados.

Mal chega a hora jantar
Corro a ver televisão
E presto muita atenção
Ao tom e ao gesticular.

E suspiro saltar daqui
E poder dizer que me vi
Tantas caras por todo o país
A falar aqui, ali, alis.

E podem rir-se de mim
Deste grave gaguejar
Por causa das mangas sem fim
Ou do mapa a descolar.

Que eu vou-me rir também
Porque ao partir já falhei
Parti sozinho, nada bem
Mas pelo menos eu tentei

domingo, 18 de julho de 2010

Cama dupla

Dormiste em cima de mim.
Estendeste-te sobre mim leito
Disposto a ranger assim
E pesaste-me ao corpo tanto
Num quartinho tão estreito
Por nos escombros do escuro
Imaginar o encanto
De me fazeres ao futuro
Ao acordar de manhã.
E noite passei pouco sã.
Bastava estender o braço
Bastava afrouxar persistir
E engolido teria o espaço
Da base cálida das costas
Sopé do morro a cair
Sobre o vale entre as encostas.

Quieto nada ousei.

Quedei-me a contar os minutos
E depois contei as horas
Contei o respirar que demoras
Por ponteiros não resolutos.

E sem te dar conta, contei!

Mas era eu tanto medo
Que sol acordasses cedo
E trouxesses a hora de levantar.
Fiquei a contar-te à espera
Cravado na crença sincera
De sentir tua mão escorregar.

Escorregou só a hora.
De me eriçar despertador
Tempo de trancar o furor
Fazer a cama, ir embora.

(Dormiste em cima de mim.
E pesaste-me tanto o desejo
Que fiquei espalmado assim
A rodar pra encontrar
Outra noite e outro ensejo.
E quando me deito agora
Sinto as costas estalar
Onde te imaginei pousada.
E conto quando demora
Fazer-me a mim, tua cama
Ou correr ao sol que me chama.

Como queria ter dormido debaixo de ti!)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Nas horas de um dia perdi dez dias inteiros.
Segunda - Não crer que o dia vai ser real
Terça - Consciência de que o dia será real
Quarta - O dia será real e eu vivê-lo-hei
Quinta - Deleite pelo prazer que me vai dar o dia
Sexta - Ansiedade porque o dia tarda em chegar
Sábado - DIA
Segunda - Não crer que o dia foi real
Terça - Consciência de que o dia foi real
Quarta - Arrependimento pelo tempo gasto no dia
Quinta - Arrependimento pelo "dia" como um todo
Sexta - Depressão por se perderem assim dias.

Em busca do amor perdido

Sobre o brilho do oceano
A azul e branco pincelado
Cantando marés ao piano,
Bem por cima de um navio
A navegar para outro lado,
Alto à linha do horizonte
A separar os sonhos fio
Do que se ousa crer verdade,
Acima do sol e raios fonte,
Acima de um um céu já sem idade
Voam juntas duas gaivotas
Contra o vento e sem derrotas,
Voam para praias desenhadas
Pelo sabor de imaginar.
Voam de ponta de asas dadas.
E à medida que o céu andam
Riscam suaves brancos traços
Pelas asas que nele raspam
Marcando nuvens e os espaços.

E duas flores emergiam
De entre o seco do areal
E uma à outra se prendiam
Em folhas, frutos e perfume,
E o enroscar amor do caule.
E pelas pétalas baloiçando
Vendo o mar e o inspirando
Esperariam juntas a maré
E rumariam onde ela rume
Pela força de partilhando
De tão firme raiz e da fé
Que só ser uno pode trazer.
Viesse a fúria da tempestade
Viesse o vento ou a maldade
Viesse a sede ou o morrer
Jamais arredariam um grão
Daquele que é o só seu chão.

E eu sentado a ver o amor
Passar a outros, fugir de mim
Procuro odor de uma flor
E visto asas para voar.
Sentando na praia ao fim
Na fronteira entre o sonhar
Sou suspiro e estendo a mão
Pra que me a venham agarrar.

Só sinto a minha pulsação.

Mas quiçá quieto, enterrado
(Só a mão tenho lá fora)
Esse amor mais se demora
A ter-me aqui encontrado.

E se o amor não vem a mim
Tem de ir mim ao tal amor.

domingo, 11 de julho de 2010

"Se lo agradezco a los que siempre me han apoyado, a mis padres, a mi hermano...
"No pasa nada, vamos hablar un poquito del partido y luego lo vamos a
"No..
"No?
"Y gracias a ti

Cuidado!

Nuvens de cinzento violento
Negras do tempo de tempestade
Vêem-se longe d'onde me sento
Num prado de centeio tão plano
Raiando agora, felicidade.

E é pra cá que sopra o vento.

E para prevenir ao engano
A seara curva-se a mim.
Mas eu depeno um mal-me-quer
Desenho uma flor de jasmim
E pouco me interessa o fim
Deste sol quando um raio vier.

Chegou. Um rugido tão cedo!
Sozinho sem pedra esconder
Molhado ao tutano de medo.
Como fugir, não posso correr?

No alto tão claro do verão
Morre-me um mal-me-quer na mão.

passado

Um viúvo senhor sentado
Num banco de pedra e madeira
Lembrando quis voltar ao passado
Quando ouvia à sua beira
O leve rumor de um vestido.
Via o rio véu a descer
Como o braço dela vertido
Tão suave de o percorrer
Que deu uma à outra a mão
E disse amor como então.
Mas ninguém lhe respondeu.

Havia um copo virado
Para baixo na mesa na beira
Quando um tremor descuidado
Se verteu e à água inteira
No chão em estilhaços de fluído.
E ousaram os cacos querer
Voltarem a ver reunido
O vidro a servir de sorver.
Ficaram quebrados no chão,
A entropia disse que não.
Ninguém mais lhe bebeu.

Um viúvo senhor virado
Pra baixo em terra e madeira
Lembrando quis voltar descuidado
Ouvindo a mesa à sua beira
Trepar estilhaços de vestido
Em cacos de o percorrer.
Então deu uma mão ao chão
E o amor repetiu que não.
O passado morreu.

plim

E olhando-me assim
Por espelho de vista
Fitavas-me conquista
De costas para mim

terça-feira, 6 de julho de 2010

Roteiro

Deixei a nossa casa, mãe
(Há tanto tempo me parece).
Saí entre o sangue e a dor
Que, mãe, aguentaste tão bem,
Bastou o querer e uma prece.

E verei, teimoso explorador
Quantos cantos o mundo tem.

Bati a porta devagarinho.
D'onde vinha violento o vento
Foi o ir do meu caminho
Pra que seja árduo o que tento.

E quando mais tarde te tornar
Dia de sol sem nevoeiro
Entrarei sem te chamar
E a teus pés porei, rainha,
A cabeça do mundo inteiro
Um troféu de cada lugar
Que esta minha nau sozinha
Feita em papel dobrado
Há-de olhando conquistado.

E gravarei nosso apelido
No livro do jamais morrido.

Perdi-te (*)

Perdi-te (*) não sei como nem quando
Talvez atrás de um meu armário
Quiçá nas fundas caves do sofá
Ou quando virei o tapete ao contrário
Talvez dentro duma chávena de chá.
(Quando te fervia para recuperar)
Ou no lixo que me esqueci de levar.
Perdi-te não entendo como nem quando.
Nos lençóis que não íamos trocando?

Afastei os móveis e espanei poeira (*)
Talvez te deitasses entre dois grãos.

E desmontei o sofá uma tarde inteira (*) E de lá provei todas as migalhas
(Migalhas de quando dávamos as mãos).

Procurei todas as frinchas (*) e falhas.

(*) E tentei ver-te dentro dum copo trancada
Porque os viravas sempre ao contrário

E estilhacei a porra do armário
À procura de um vestígio de rires
De rires com uma chaleira entornada
E com o fedor do lixo da cozinha
Quando te trancaste a dormir sozinha
Numa cama onde cabias na almofada.

Procurei-te em cada polegada da casa
(Como se não te quisesse encontrar
Eras uma miragem que o olhar vaza).

E agora que te suspiro anunciar
O teu futuro pelas folhas de chá,
Agora não há modo de te encontrar.
Antes, quando cansava e fugi de lá
Encontrava-te onde calhasse o olhar
Como se gigante trepasses o mundo
Aparecias no horizonte ao fundo.

domingo, 4 de julho de 2010

Tempo

Há qualquer coisa de belo em não fazer nada.
Em esperar porque raie o sol da madrugada
Deitado de costas na cave, no escuro.
Belo porque é como se o tempo a avançar
Fosse mais um passo em direcção ao futuro.
É como ler um livro para descobrir o fim
Febril, furioso, sem pausar nem desfrutar.

É gastar os dias como se gastam assim.

É como se o tempo que neste ócio se escoa
Fosse um buraco na madeira de uma canoa
Que há muito jaz no fundo do mar.

Tempo? Há tempo imenso, tempo demais.
Há tempo para procurar pinhas num cais,
Para procurar um navio no musgo dos pinhais.

Offside

Na verdade, tudo ia bem.
Corria, prado verde real,
Real como o sol também
A dar contraste às flores.
Corria sereno sabor sal
Pra te alcançar, esperavas.
E imaginava quantas cores
Haveria o cabelo que penteavas.
E corria de mim tão seguro
Que me aguardavas cantando,
Via a tua silhueta no futuro!
Via-te onde começava a floresta
Na orla de sonhar alcançando
Onde a dúvida dormia a sesta.
Pouco mais que quatro passos
Me faltavam pare te beliscar.
Júbilo em tão metros escassos.
Quando um ramo ergue uma bandeira
Amarela vermelha de estilhaçar.
Estava adiantado à clareira
No momento do sonho de passe.
Estava a ter-me à tua beira
Antes mesmo de te perguntar
Se querias que o amor te buscasse.
E corri sem saber onde vais.
Corri tarde, tarde demais.

sábado, 3 de julho de 2010

tac


tac.
tac.
tac.
(Entras estrela na sala
Como um relógio de corda
Como um gatilho a premir)
tac.
tac.
(Entras e vendo se cala
Pasmando sentada esta horda
Deleite ver-te a luzir)
tac.
tac.
tac.
(Estalam os saltos o ar
Estalam a tinta no tecto
Estalam cantando ecoar)
tac.
tac.
(Trazes o que é incorrecto
Lascivo, perigoso, encanto
Descobres desejo num santo)
tac.
tac.
tac.
(Vens de aura vestida
Aura do charme de fama
Camisa tigresa invertida
Saia de lençóis da cama)
tac.
tac.
(E longe intocável pareces
Andando em dois pedestais
Como cinema de preces
Brilho de actrizes astrais)
tac.
tac.
(Eu que te vi já de perto
Sei que és não bela demais
Mais que um felino desperto)
tac.
tac.
tac.
(Transpiras tão forte feitio
Mordaz de jamais moldar
Mudavas o curso de um rio
Se o quisesses atravessar)
tac.
tac.
tac.
(Nota-se, vaidade de olhar
Nota-se de ver-te a entrar)
tac.
tac.
(E eu vejo-te maravilhado
Por entre folhas que estudo
Vejo-te vislumbres de lado)
tac.
tac.
(Como se do teu olhar mudo
Fosse eu ser contemplado)
tac.
tac.
(Teu corpo curvo e esguio
De lento, lânguido andar
És que tu própria mais alta
Vejo-te e sei desejar)
tac.
tac.
tac.
(Mas por não sentir eu o cio
Vejo o que não te dão falta)
tac.
Vejo-te o lábio a tremer.
tac.
(Vejo-te a tu própria ser)
tac.
tac.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Wikipedia

No pico do verão
Houve lá fora nevoeiro.
Nem se via a janela.
(Mas eu não vi)

Rasgando a solidão
Um saxofone interveio
Noite quente e bela.
(Mas eu não ouvi)

Cheira salgado ao mar
E à brisa que o traz
Em murmúrios de um riso
(Mas eu não cri)

Uma senhora anunciar
Sumo fresco de ananás
Dos frutos do paraíso.
(Mas eu não bebi)

Fiquei em casa sentado
A pesquisar tudo isto
O sabor de um gelado
A história de Cristo.

O que conheço do mar
É de saber pesquisar
Na biblioteca do navio
Onde em viagem m'avio.

E o que sei de viver
É de em livros o ler
O balançar de um baloiço
Que vazio não oiço.

Querer

O dia em que não me levanto
Das carícias da cama
E o desperdiço a um canto
A guardar o colchão
A esperar se me chama,
Quando me deito cansado
Lembro amnésia de si.
Lembro tudo o que vi
Uma porção de nada
Mão cheia de escuro
Outra hora aguada
Nem vislumbre futuro.

E quando me levanto
Já de dia seguinte
E o gasto a um canto
Perdido num pranto
De nada viver,
Continuo a não saber
O que faz para querer.

sábado, 26 de junho de 2010

Em preguiça e por sono
(Porque sou d'alma preso
E dela pouco dono)
De candeeiro aceso,
Faço a cama a quebrar
Só antes de me deitar.

E durmo em rangidos
De sonhos interrompidos
Pelos vincos nos lençóis
A acordar sem sóis.

Toda a noite acordar.

Como sarar uma ferida
Só antes novamente
Cair de mão estendida
Que nem o sangue sente.

É como se esforçar
Só antes de desistir,
A sirene a tinir
Comigo a planear.

Quando em fim me deito
Depois da derrota dia
A cama cheira a leito
Onde hei-de acabar
Entre crosta de sangue
E os sonhos que queria
Se a tempo me levantar.

Abafar de um bangue.

É como acolher uma bala
Antes de ter feito a mala.





PUUM!

domingo, 20 de junho de 2010

Ser ideal

Hoje veio-me visitar
A minha vontade ser alguém
E saiu por onde entrou
Horas de planos passadas.
Ficaram parecendo tão bem
Duas cervejas ninguém tocou
Um monte de roupa por lavar
Atrás de portas fechadas.

De resto, aconselhou-me o ideal.
Lavei a roupa e cheirava mal.

Vende-se amante

Vendo jovem amante
Ainda em bom estado.
Boa-disposição constante
E apoio permanente
Sem se ver enciumado.

Sem qualquer condição
-Mais que sincero romance
-Ser firme numa mão
-Tocar piano regularmente
-Pedir em voz que não canse
-Em quatro línguas experiente
-Flexibilidade espargata
-Ter lido de livros milhar
-E ainda assim pensar por si
-E trazer uma desiderata
Para se poder sempre entender.
-A alegria de quem se ri
Porque tudo pode ser engraçado
-Entrar em jogos sem sentido
-Ostentar soutien apertado.
-Gostar de segredos ao ouvido.

É simples, a não perder.
Basta ser a primeira a ligar
Para preencher tão bom lugar!

(Estou pronto para atender
Há uma década já passada
Os sonhos de uma chamada)

(Sentado imediato ao telefone
Selectivo sou só mirone)

:p

Abre o armário por detrás do espelho
E procura neuróticas entre os frascos
Aquele que tiver o rótulo vermelho.
Para que não falhes e vivas fiascos,
Despeja-o todo na tua vontade de fugir.

Assim não há forma de falhar suicídio.
Falta só forma de gravares um vídeo
Para que eu em casa a ver me possa rir.

E quando souberes em sirenes a asneira
Que apenas terás tão forte caganeira
Aí sim eu vou imaginar-te a sucumbir.

sábado, 19 de junho de 2010

keep dreaming

Hoje não tenho nada a dizer.
Andei a desperdiçar o dia
A carregar livros para a sala
E os tornar iguais a trazer.
Enfiei toda a roupa na mala
Para ver lugares que não sabia
E instalei-me no corredor.

"Realmente", pensei no chão sentado
"Nunca tinha olhado esta parede
Nunca achei que tivesse valor.
E hoje aqui fico parado."

Andei pela casa a dizer "vede"
De qualquer possível perspectiva.
Perguntei à porta se estava viva
E não respondeu como quem consente,
Fechei gavetas e abri-as
Com um "com licença" decente
Para confirmar que estão vazias.

E porque ao fim deste dia
Não há nada que não havia,
Há só o silêncio frenético
De meus passos circulares
Num tédio nulo cinético,
Não tenho mais nada a escrever
Do que impávidos esgares.

Então para quê a verborreia
Se não há nada para contar?

Porque para erguer uma teia
São precisos tantos traços
Quantos possíveis forem tear.
Necessários tantos braços
Quantos se possam manobrar.

Não tenho nada para contar
Mas posso aprender a falar.

E porque um dia, já tão tarde
Um poema oco de presença
Pode ser o grão que me guarde
De fazer toda a diferença.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Já posso abrir?

Amanhã cedo de manhã
Acordando assim molhado
Podia de esperança vã,
De ver ainda desfocado,
Entrar bocejo na cozinha
E ver-te lá a ti sozinha
Sentada com uma torrada.

Estenderias uma fatia
E eu olhando não creria.
Eu olhando tanto queria.
De vestido de dormir
Calmo branco de repouso
De esperares a sorrir,
Alta, baixa, quadrada.
E beliscaria se ouso
Esfregando bem a visão
E quando tirasse a mão
Lá estarias tu sentada.

Podia eu olhar prá frente
E surgires num repente.

Podia, mas qual era a piada?

VIVE!

Abre a janela!
Abre-a num rompante
Pra que te ofusque a claridade.
Vês um barco à vela
No mar calmo que imaginas?
Podes ser um navegante
Com jornal e a vontade
Dobrando as folhas finas.

Atira a tua nau!
Atira-a sem pensar
Do teu porto parapeito.
Vê-la a planar
Com notícias dia mau?
Vê como cai a direito
Pelo vento liberdade.
Naufrago mas de vontade.

Vês o sol ao fundo
A marcar o horizonte?
Sabias que um segundo
A fazer à vida ponte
Somado com outros tantos
Que não quiseste gastar
Dava pra encontrar os cantos
Do globo viajando nadar?

Faz tudo o que ousares
Pra que memorável venha a ser,
Para um dia recordares.
E se nunca te vier a esquecer
É porque valeu a pena
Não seres testemunha pequena.

Vês o outro lado da rua?
Lá bate o sol do fim da tarde.
Porque é que à sombra rastejas
Se a luz pode vir tua
De um sorriso que te guarde?
Se é tão fácil seres brilhante
Basta um jornal que vejas
E o coração como quadrante.

Atravessa a estrada.
Mas não na passadeira.
Pousa o protector
Deixa essa sombrinha
E repara no fulgor
Com que se ri atordoada
A luz do sol, a cegueira
Se a não deixas sozinha.

Tu que gostas de desenhar,
São vermelhas as ondas do mar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Play

Vi um filme a teu lado,
História de final feliz,
De amor assim partilhado
Como um verbo que se diz.

Mas estava eu interessado
Em assistir só ao romance
Simples, longe do meu alcance.

E numa cena de tristeza,
(Éramos nós só compaixão,
Era uma lágrima acesa)
Encontrei-me à tua mão.

Quão cálida mas suave.
Aconchego de céu de seda
Borboleta ou voo d'ave
A forma de uma labareda.

Estarrecido agarrar
Mergulhando em tua palma.
Que filme estava a dar?

Como dar os dedos da alma.

Há tanto tempo mal olhando,
Vi-te pela primeira vez.
Vi-te bela iluminando,
Vi colorido como vês.

Perfume, doce algodão,
Escada pra longe do chão.

Li-te imaginando as linhas
E soube quanto me tinhas.
Lembrando dava comichão.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

macaca


há tanto tempo jogamos juntos à macaca rindo
mandando pedras prá frente pra pular o caminho
a contar segredos sobre as árvores e este rio

e ajudando mas caindo
ambos sempre empatamos
a corrente dum arrepio

combinamos à apanhada que não haveria sozinho
e de mãos dadas fomos cada um para seu lado
num macaco de chinês onde o proibido é parado

e quando surgia tristeza
gritavas d'outro planeta
não percas a tua certeza
e eu guiava o meu cometa
agora uma flecha m'invade
a brincar dizer a verdade

sábado, 12 de junho de 2010

48

Era tão bom que um dia
Vindo sereno durasse
Quarenta e oito horas.
Nenhum tempo que faltasse
E nada não se fazia.
Era aproveitar demoras.

Tanto tempo pra dormir
Pra fazer o de dever
E apreciando sorrir.
Tempo pra tudo viver.

E se os dias fossem do dobro do comprimento
Diariamente eu veria o por do sol,
Comporia versos sem pressa de os terminar
Estendido na cama sereno de corpo mole.
Sem que faltasse um só sonho que eu não tento.
Sem que houvesse despertador pra me levantar.

Se cantassem os meus dias tanta duração
Talvez com sono continuasse a acordar.
Talvez os versos fossem exactamente o que são.
Só mais tempo teria para os desperdiçar

Aleatoriamente

Historial de acções:

-Aberto o programa "planeamento_tarde"
-Escolhido o modo aleatório
-Play (00 min 00 seg)
-Estudar
-Forward (00 min 01 seg)
-Visitar tia-avó
-Forward (00 min 03 seg)
-Limpar casa de banho
-Forward (00 min 04 seg)
-Treinar p/ sonho
-Foward (00 min 07 seg)
-Recolher lixo @ chão rua
-Forward (00 min 08 seg)
-Resolver antiga zanga
-Forward (00 min 10 seg)
-Ajudar mãe trabalho
-Forward (00 min 11 seg)
-Arranjar fechadura
-Forward (00 min 13 seg)
-Comprar roupa
-Forward (00 min 14 seg)
-Jogar futebol
-Accepted (00 min 14 seg)
-Modo aleatório desligado
-Programa encerrado
-Computador desligado

sexta-feira, 11 de junho de 2010

árvore, criança, livro

Sim.
Devia plantar uma semente
Para uma árvore crescer um dia.
Sei, sei sim.
Sim, devia deixar à gente
Um livro, testemunho escrevia.
Sim.
Devia apaixonar um parceiro
Que me desse uma criança.

Sim.
Sei que devia o dia inteiro
Trabalhar na minha esperança,
Como explicam, assim e assim.

Mas o que devo eu a alguém
Para ter de deixar um menino?
E se eu gostar e fizer bem
Cortar um fio ainda mais fino
Porque não o farei todo o dia?

Ou desenhar um circulo quadrado
Ou encher e esvaziar uma pia?

Sim, será esse o meu legado.
Chovia.
A noite era tão escura
Nem a lua se podia.
Nem o sol nem a secura.

Nada se ouvia.
Só o silêncio que fazia
A chuva a esventrar os telhados.

Tombados.

Mas surgindo à solidão
De algum lado possível perto
Mas tão distante,
Ecoou o uivo de um cão
Um queixume desesperante
Por não haver ninguém desperto.

Não foi o silêncio quebrado.
O uivo da chuva esmagado
Era um pedaço do seu costado.

Tudo inundado.

E chorando se seguiram
Qual bater de um coração
Que não tardava a esmorecer.

As pessoas não ouviram.
O pesar da escuridão
Não deixava querer viver.

Talvez estivesse preso
Numa perna num arame
E puxasse, puxasse...

Talvez um carro ileso
O passasse, derrame.
E magoasse, magoasse...

Se calhar era o sonhar,
Se calhar só nostalgia.

Cessou o uivar.
Chovia.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cadeira

Porque era carpinteiro
De careca já clareira
Quis fazer uma cadeira
Pra passar o tempo inteiro.

Mas tornou-se entediante
A rotina de a fazer,
Reiterar uma maneira
De serrar cortar madeira
Sem que houvesse um sentante
Pra depois lá se estender.

E propu-la como pronta
Com uma perna lhe faltando,
Tinha três e uma ponta
Que cansei de ir lixando.

E assim só por experimentar,
Fui sentar-me no meu feito
Que comigo não durou
Mais q'um segundo e peito
Que caindo me rachou.

É tão fácil começar...
O sucesso é acabar!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Aposta perdida

"Vamos jogar um jogo", disse eu.

E tu disseste: "um jogo qualquer?"

"Não, vamos jogar um jogo meu"
"Farás tudo o que eu assim fizer
E se não, farás só o que eu disser,
Se recusares, farás o que te der
E dás-me ordens a cumprir."

"Vamos lançar o dado à vez.
Se calhar um número par
Arrumo-te e vou desistir.
Se ímpar, tantos passos darei
Quantos que no dado vês.
O dado lança-se a pousar."

"Jogarei de olhos vendados
Darás corridas que não sei
À minha volta ou não voltar.
E quando abrir e te ordenar
O castigos que não me lembrar
Podes fazer renúncia ou assistir
Mas jamais te permito rir."

"Quando me matares a rainha
És obrigado a encontrar
As diferenças entre ela e mim.
Se não, tiro a espada da bainha
E antes de te trespassar
Fazes-te pedra papel tesoura"

"Se a mim for a pedra a calhar
A ti calha-te tesoura pra me embrulhar"

E tu disseste: "Concordo, vamos jogar
Porque só te guardo neutralidade.
Se eu ganhar, não mais hás-de chatear
Se perder, é um desporto naturalidade."

"Perdi" gritamos num tempo igual
Porque tínhamos ambos jogado mal.
Afastei-me do espelho e fui olhar.

domingo, 6 de junho de 2010

I chose to live

Sinto a porta do quarto arrastar
Do rumor presente da morte.
Está quase, é esta a nossa sorte
Diz-me, baixinho, hábil esperar.

Um reflexo relâmpago entrou
Entre os intervalos da persiana.
Tudo está calmo, sinto que vou
Ouço o desembainhar da catana

Espere, sei que temos de partir
É só o tempo de me despedir.

E abro a mesinha de cabeceira.
Foge pó, álbum de fotografias.
Volto após uma viagem inteira
De muitas noites mas tantos dias.

Fui um homem bem sucedido.
Fiz feitos de uma ovação mundial
E feitos me têm agradecido.
Fiz e provei da pedra filosofal.

Mas quanto esforço eu suportei,
Quanta dor indomável, aguda
Mordendo a língua eu aguentei!
Quanto neguei desistir sem ajuda!

A minha história foi só combater
Em nome do que sonhava obter.

Abro o álbum de recordações
E leio orgulhoso as legendas.
"Noite das vinte comemorações"
"Trigésimo prémio das lendas"
"Produção no ensaio de noventa"
"Visita a casa, praça de multidões"
"Com o presidente Coronel Buendía"
Folheio décadas, mão tão lenta,
Mas cada uma está vazia.

Não há nenhuma fotografia.

Talvez do trabalho não pausasse,
Não tive um amigo que as tirasse.

Não, não quero realizar o querer
Eu escolho simplesmente viver.
Mas já a porta rumor se abria...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

...Assim, no contexto daquele que deve ser o objectivo sumário da anabolismo progressivo dos nutrientes referentes à vida, destacam-se 7 enzimas. Todas elas catalisam reacções irreversíveis, ou seja, o produto não vai voltar a formar substrato no sentido inverso. A enzima marca-passo é a do ponto (1), a cínase do sorriso. É ela que, consoante a sua actividade, controla a velocidade de toda a via.

(1) cínase do sorriso: sorriso + ATP -> sorriso-P + PPi
(2) líase da alegria: sorriso-P + 3 palavras sinceras -> alegria-A1 + Pi + 3H20

A desidrogénase da alegria (3) é a enzima que promove a oxidação e consequente destruição da alegria-A1, sendo os produtos da reacção libertados no fluído da solidão, juntamente com ácido vazio ou vaziolato. Esta enzima está activa quando a líase da alegria é voluntariamente inibida.

(3) desidrogénase da alegria: alegria-A1 + NAD+ -> indiferença-A1 + NADH + CO2

Porém, existe uma via de salvamento para a indiferença-A1. É catalisada pela desidrogénase da alegria dependente de NADPH (4) Posteriormente, a mãos-dadas sofrem a acção de uma isomérase (5), convertendo-se em alegria-A1 de novo.

(4) desidrogénase da alegria dependente de NADPH: indiferença-A1 + NADPH -> mãos-dadas + NADP+
(5) mãos-dadas <-> alegria-A1

O processo de anabolismo continua, juntando-se alegria-A1 a D-B-escutar, reacção catalisada pela sintétase da D-B-ajuda (6). O D-B-escutar é um composto nutricionalmente indispensável, não é conhecida nenhuma via de sua síntese endógena. Em média, um indivíduo adulto de 70 kg necessita de 120 minutos de D-B-escutar por dia.
Por último, duas moléculas de D-B-ajuda, já na matriz da mitocôndria, juntam-se a uma molécula de acetil-Coa, gerando o composto último da via, o fraternil-CoA.

(6) sintétase da D-B-ajuda: alegria-A1 (4C) + D-B-escutar (2C) + ATP -> D-B-ajuda + ADP + H2O
(7) 2 D-B-ajuda + acetil-CoA -> Fraternil-CoA (8C)

Voar numa vassoura

E se encontrar a felicidade
No lixo à beira dum passeio
Dentro dos dejectos da cidade,
Em beatas queimadas, papéis
E latas entornadas a meio,

Se me brilhar a felicidade
De entre restos apodrecidos
Terei eu pretensões d'outros reis,
Asseados e desiludidos?

Não. Se alegria for varrer
Uma auto-estrada escura,
Avenidas hei-de percorrer
Mas nunca ruas da amargura

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Auto-estrada

               A4

Estação de serviço (Desejos) 2
Aplauso 12
N. Sra. da Perseverança 88
Vila Pouca do Esforço 100
Covil da Desistência 155
Vila de Átropos 169
Mondim dos sonhos 188
Gonçalo,

Fui à procura de ti porque não te estava a encontrar em casa.
Abri todas as gavetas do armário onde costumo guardar-te mas alguém deve ter-te tirado de lá.
Se chegares antes de mim, por favor telefona-me.

Gonçalo

Altitude II

Eu tento ser alto
Mas quanto mais salto
Mais falta saltar

E tentar acabar
O que ainda falto
É tomar o veneno
De ser mais pequeno.

Quieto, parado,
Anão, sossegado.

Altitude

Eu tento ser alto
O mais quanto posso
Subo-me e salto
E em cima dum banco
Desta perna que manco
No céu dedos roço

Mas tal peso trago
Aos ombros caídos
Corcunda tão vago
Que sou derrear
Pra não me espalhar
Num chão de gemidos

É atlas às costas
E sonhos na pasta
E as regras impostas
Os deveres na camisa
De forças tão gasta
O que querem de mim
Corrente indecisa.
E fés atreladas
Família mãos dadas
Os medos cintura
Lutas penduradas
Por fio que mal dura
Tarefas calculadas
Mentiras agarradas
Valores em malha
Tralha, tralha, tralha!

Quanto eu daria
Por tudo soltar
E leve levitar
Para o sol, o dia.

De mim despejar
Tudo quanto ronde.

Mas depois voar para onde?

segunda-feira, 31 de maio de 2010

GéneSIs

4
4

"E disse Deus: Haja luz; e houve luz."
Iluminou-se brilhando o negrume
Rasgando-o um ruído que reluz
Do desembainhar de seu justo gume.

Nascendo lá longe o segundo dia,
Deus criou o céu, a terra e o mar
Os urros de um tornado, melodia
O balançar duma flor assobiar.

"Depois fez Deus os dois grandes luminares"
O maior nos havia orientar,
O lívido, reger a força dos mares.
Mal chegasse um, outro silenciar.

Soltou peixes desde as ondas ao fundo
Que se falassem por canções d'embalar
E pôs as aves a vigiar o mundo
Que avisassem em música o ar.

"Disse: produza a terra alma vivente"
E soou o tremor forte das manadas
O cantar de uma cigarra contente
Notas da voz de uma zebra sopradas.

No sexto dia, Deus desenhou o homem
E harpas afagadas por sua mão
Desenhou vozes que as palavras tomem,
A paixão pela tristeza dum refrão.

Ao domingo, Deus pôde sim descansar.
Deitou-se nos asteróides, sua cama,
Habituado era a não escutar
Mais que vácuo calado, raios gama.

E dormindo enfim escutou deleite
A maravilha porqu'havia moldado
O barro amorfo em um globo aceite,
Música, motivo deste respirado.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cortz

Recolhes tão pouco discreta
Uma carta de cima da mesa
E aconchega-la quente na mão
Que ninguém vê nem detecta
Por se saber quais lá estão.
Tens a face corada e acesa.

*************

E pronto fazes o sinal
Sinal já sabido e esperado
Como que os dedos queimes.
Porque é óbvio e revelado
É inocente e natural,
Levantei-me e gritei "cames"!

Jamais ao jogo enganando
Viemos juntos ganhando.

terça-feira, 25 de maio de 2010

G

Naquela noite sem lua
Quando apontamos no céu
Nuvens com forma de tudo
(Deitada olhavas tu nua
O fumo branco de véu
Soprado contente mas mudo);
Perdeste-te vendo comigo
No labirinto que sabíamos ser
A porta do meu umbigo.

E juntos nas nuvens nos víamos
Ou só nos dizíamos ver
Remoinho do fumo prever
Aquilo quanto sorríamos.

Vendo céu negro nublado
As aves e subindo voar
O vento a vir sussurrar
Sinais de mim a teu lado.

Mas prever assim o porvir
É bom por saber que presente
Poderá não previsto assim vir.

Ler enevoado o futuro
Sendo ao futuro não crente
É só forma de o partilhar
São luzes brilhando no ar
Faróis de um corpo tão duro.

Duro este chão que dormimos
No momento em que vendo nos vimos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Rancor, falta de culpa e dor?

...atolado em rancor
Que se o carro visse a passadeira
Tinha sido tudo outra maneira.

Rancor, falta de culpa e dor.

Mas por muito que as nuvens escondam
O céu sem que mais o respondam
Sem mais que os rugidos trovões
Atirando chuva, inundações,
Mesmo que seja a luz cinzenta
O tempo frio do vento a uivar,
Mesmo assim brinca o sol de brilhar
Atrás delas no seu leito magenta.

E mesmo que um carro atropele
As pernas sadias da esperança
E me arda combustível a pele
E me queime o imprevisto a visão
Das chamas que este azar lança
Ainda se prolonga esta estrada
Que eu levo em deleite escutada
E a sei como a palma da mão
Mudando em cada madrugada.

Mesmo que cubra o Inverno o jardim
Em era de branco onde é ordem morrer
É a plantar que a mim só me cabe
Encontrar os rebentos de ser florescer.

Rancor, falta de culpa e dor

Um carro não parou na passadeira
E eu não a pude atravessar.
E o autocarro que estava a chegar
Decidiu não esperar por mim
Comigo correndo à sua beira!

Sim, brancas listas sem fim
Tão perto e deixa-me aqui assim

E decidi célere telefonar
Para um táxi que me viesse buscar
Mas não tinha o telefone comigo,
Nem na mochila nem no umbigo.
Alguém mão leve mo tinha tirado.

E eu tão de susto como suado
Corri porque era a última vez
Entrei num café e implorando pedi
Uma chamada, no chão ajoelhado
Uma chamada, nem duas nem três.
O dono recusa e ainda se ri
Esfregando as mãos atrás do balcão.

Mas lembrei-me da minha carteira
E estendi-lhe dez euros que tinha.
Esfregando mão não disse que não.
Chamei um táxi que nunca mais vinha
Porque atravessou a cidade inteira.

E quando parou pra mim ao passeio
Eu já de alívio a ser suspirar,
Surgiu um homem de fato mas feio
Que entrou sentado no meu lugar.

E lá consegui, mas viram-me grego
Chegar ao lugar de horas passar
Onde uma colega me veio anunciar
Que eu acabava de perder o emprego.

E agora penso atolado em rancor
Que se o carro visse a passadeira
Tinha sido tudo outra maneira.

Rancor, falta de culpa e dor.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Panfleto

Ajude os doentes com sida!

Ajude-nos a travar o desastre
Ajude-nos a conseguir nova vida
E um penso decente no antebraço
Antes que a si também se alastre!
Custa só um café não comprado
Um vinho forte por um vinho fraco
Custa um banho menos demorado
Ou os trocos de comprar tabaco!
Ajude-nos a nós próprios ajudar
A comprar as seringas do cavalo
Para podermos cavalgar!

"Tens de ajudar, Gonçalo.
Tens de socorrer quem precisar
E apoiar e dar às pessoas o bem"

-Aqui tem.

Bocejo

Uaaaaaaa, quanto sono acordando.
Ruído remeloso do despertador!
Hoje deitar-me-hei mais cedo...
Acorda, tens de te ir levantando.
Levanta-te, dormi em cima do dedo
E está dormente, tens de te lavar
E vestir-te, estás pálido sem cor.
Os cereais têm sempre o mesmo sabor
Tu também nunca tentas variar!

Uaaaaaaa, tanto sono ainda trago...
Uaa... Merda, adormeci sem querer!
Basta fechar os olhos, logo apago.
É preciso levantar imediatamente
Ainda por cima tenho o dedo dormente
Levanta-te, já sabes o que comer,
Já é costume, outra vez atrasado
Tão alto o sol, como que mente
Sobre a rua e um camião lá parado.

Ahhhhhh, entra o sol pela persiana
Os raios pousam na roupa do chão
Sinal de ir o sol tão alto, vertical.
Mas são onze horas, outra vez não!
Não te levantas, o sono te engana,
Algum dia hás-de acordar pontual?
Um camião está a interromper a rua
O autocarro não passa, não faz mal.
É como se a culpa fosse menos tua.

Foda-se!! Não acredito que adormeci!
São onze horas agora, nem vale a pena
Nem vale a pena sair de casa agora.
É o sono, o destino que assim se ri
Algum dia chegarei sem demora?
Tanta roupa suja!, praí uma dezena
De cuecas que não cheguei a usar
De uma vez por todas, as vou limpar
Meio dia, sim, cereais, vou almoçar.


Uaaaa

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Escutarei eu

Ver-te, avô, sorrindo assim,
Ver-te as rugas do trabalho
E os calos de tempo ruim,
Ver teu rir tão natural
Qual admirar um carvalho
Qual memorizar um pinhal
Um espontâneo vivo rir,
Ver-te assim vendo a sorrir
E qu'importa o que há-de vir
Quando o sorriso é presente?,
Ver-te contente intemporal
É o mais simples, claro sinal
Que tens quem te siga em frente

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Só não te esq...

Um dia esqueci-me da cabeça:
Não a trazia ao pescoço agarrada.

Trazia-a na palma da mão
Apertada "que tal nunca aconteça".
E assim bastou-me uma olhada
Em bréu de redor sem visão
Para já nem a sentir na mão
Nem ver onde estava pousada.

Aberta o fecho correr do pescoço
Perguntei tacto passava um moço
Se não via nenhuma cabeça no chão
E ele vasculhava dizendo que não.

Agradeci sem sequer vê-lo.
Fui-me pela estrada à beira
De mãos tristes na algibeira.
E lá senti o meu cabelo!

Prisão

Por dentro trancado
Na cela onde moro,
O futuro lá demoro,
Para apagar o passado
Vejo os anos passar
Lentos como rastejar.

E quando ouso chamar
A alegria que esconde
É a parede e o ar,
O eco que me responde
Onde

Onde



Onde

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O apito irrompe num eco de três    O
Dividindo as cores das bancadas. O

Está terminada a fulcral final O
Que o pormenor se prepara há mês. X

Há alegrias gritando abraçadas O
De lágrimas que se contêm mal O

Do outro lado, tristezas deitadas X
Embrulhadas ao suor camisola. X

Para uma metade ser só rejubilar X
A outra parte é silêncio desola. O

E os louros que uns vão a mostrar O
Outros, de longe, só podem sonhar. X

terça-feira, 11 de maio de 2010

O primeiro de Janeiro

    Estou sentado à cadei   nto-me e compro os jornai
ra de palha De manta e ca s Que todo o dia eu hei-d
saco de malha E conto já e ler. É para que o tempo
pelas folhas que caem Qua não passe Sem que nele me
ntos Outonos de mim já nã levasse. Porque embora n
o saem. Levo já setenta e ão possa querer Ainda dar
dois Ou serão setenta e m meu contributo Pra ajuda
ais? E dias longos sou ap r a rodar este mundo Poss
enas Meus jovens netos cr o sim enfiar-me nele Sabe
escendo As alegrias dos o r o que há novo cada minu
utros vivendo A calma às to Lê-lo outra vez todo o
memórias q'acendo Quantas segundo. Posso ainda enf
folhas voando quais penas iar-me nele. E assim, com
De anjo descendo o caminh uma manta enrolada Às pe
o Que hei-de subir, não s rnas, uma já quebrada Con
ozinho. São cerca de sete tinuo a correr a avenida
nta e duas Ou serão antes Que lá em baixo vejo cres
setenta e mais? Tão monót cer. Já nem lhe vislumbro
onos dias, são luas Novas a saída E ainda a contin
a horas matinais. E leva uo a conhecer.

Meduterânio

Navega aventura uma nau
Com carga de especiarias
Não pra vender mas pra dar
Mesmo que o mar seja mau
Atlântico correntes frias.

Porque sempre se alcança
Quando é forte o remar.

Mas pra passar Gibraltar
Há-que erguer a bonança.
Deixar os lábios falar
Um o fundo de Espanha
Outro d'Àfrica o cume
E a entrada se ganha,
Só sabendo escutar.

Depois são ondas de lume
De tão belo prazer
Que é para trás e diante
Para nunca o perder.
Vão as ninfas cantando
Em águas rosa diamante
Já a Sardenha roçando
Muito em grego gritando.

E pousamos mercadoria
Em ilha perto da Turquia.

Barquinhos brancos à vela
A levarão calma a descansar
Pelo istmo a atravessar
Dos três impérios capital.

Encontrarão uma caravela,
Passado o colo ao negro mar
Alva, encantadora, circular
E o primeiro que lá chegar
Só ele será o barco içado
Só ele provará o outro lado
Em troca do puro açafrão.
Dois cozinharão em comunhão.

Atracarão em porto costeiro
Qualquer um por aquele mar.
E armando aí o seu estaleiro
Com madeira junto à mãe
Quem há-de vir a navegar
Aí crescerá afecto, tão bem!

domingo, 9 de maio de 2010

Que engraçado.

  Que ninguém lhe podia chegar.   Puxá-la, deleite emoção
Em tão alta prateleira Logrei agarrar-lhe na asa
Um sonho que cria guardei Era a ponta dos dedos pó.
O mais que sentia dele só
Não o conseguia alcançar
De, persistência, realizar
Pra lhe arranjar maneira
E quando dele me lembrei



Mas como um eco que vaza
Ouvi-o e st ilh aç os n o c hã o.
Um riso desgosto, insano.
Enrolei os pedaços num pano...

sábado, 8 de maio de 2010

Aladino?

Quando eu era pequenino
Andei na areia a procurar
Na areia das obras ao luar
A lâmpada d'ouro de Aladino
Porque era bom explorar.

Não pra realizar o sonhar.
Disso eu não precisava.

Mas quando a via enterrada
Ou brilho entulho espalhada
E, rindo, logo a esfregava
Nunca o génio aparecia.

Enterrava-a no meu jardim
Com as outras e a esquecia.

Oh tropecei numa coisa assim
De novo, num dia já crescido
Caminhava na praia entretido
A deitar o sol no horizonte
A planear o percurso da ponte
Que me havia de lá levar.

Sonhava tanta coisa diferente
Corria bêbado pra onde calhar.

Escavei a areia e lembrando
Poli a lâmpada à camisola.
E o génio surgiu anunciando
Com seu rugir de maré
Que faria do mundo uma bola
Pra eu chutar com meu pé,
Que me daria quereres três
Mas que só mos daria uma vez.

Sentei-me, dias, a matutar.
O génio impaciente esperar.
Só mos daria uma vez.

E decidi-me, vendo as gaivotas.
Que se fosse o génio embora.
Queria provar as derrotas
Qual futuro, eu queria o agora.

De que valia ser um pintor
No trono da imortalidade
Se nunca um quadro pintara
Se não lhe sabia o sabor?
Pra quê ser de imóvel idade
Se a morte me era tão rara
Que não me obrigava a viver?
E pra quê ter o dom de escrever
As regras e leis do universo
Se nunca gostara de um verso?
Pra que chegar ao fim de uma estrada
Sem ter visto o sol a crescer
Brilhando na brisa de um arvoredo?
Sem ter visto a floresta molhada,
Ter ouvido o orvalho a nascer
Se ainda falta tanto, é tão cedo?
Vale a pena o fim da estrada
Sem de paisagem recordar nada?

Por isso pedi ao génio para partir.
Se eu quero o horizonte, armo uma jangada.
Sou eu que tenho de lá ir.

terça-feira, 4 de maio de 2010

"Gaivota pura e leve"

Seria como uma gaivota sem asas
Sem saber onde era o mar.
Seria ave viagens rasas
Sem cantar ou saber escutar.
Seria fugir às ondas, ao vento
À procura de um só assento.
Seria o medo de afogar
Porque prende a solidão
O medo de nunca chegar
Por não haver razão.
Seria voar mais depressa
Sem ter visto o caminho.
Seria noite não cessa
Porque o sol não vem sozinho.
Seria a morte dos sorrisos
E os rostos vazios, lisos.
Seria trancar o parado momento
Nas alas escuras do pensamento.

-Seria, mas não é.
Porque as gaivotas sozinhas não voam
-Voamos cantando e brincando
Para que as nuvens não doam.
-E partilhamos o azul da maré
Que vai crescendo e recuando
E isso nos vamos ensinando.
-E quando uma fica para trás
Porque rir dói na barriga
Todos voltamos atrás
-Porque a alegria é nossa amiga.
-A alegria que tem asas tão belas.
-E o caminho que juntos levamos
Para o horizonte, por cima das velas
Tem sentido porque o contamos
O esforço cantado a uma voz
A voz que é de todos nós.
-E assim, um dia ainda distante
Vendo um álbum de fotografias
As páginas não vão estar vazias
Cheias de monólogo constante.
Vão ter o cordão e os umbigos
De uma vida que foi alegrias.

Porque amamos amigos.

domingo, 2 de maio de 2010

Heartattack

Do outro lado da estrada,
Uma festa de dança.
Lá, algures, agarrada
Te perdes sem cobrança.

E eu, doutro lado,
Ouço o tão baixo pesado.
Tem tempo de pulsação
Violenta, acelerado.
E o eco infalível vem,
Sístole imitação.
Ouço-te cair, meu bem.

O som que bate em mim
É esforço teu coração.
Aplausos e é o fim.

sábado, 1 de maio de 2010

aA

Uma menina bonita
Contanto ainda a idade
Pelos dedos da mão
Escreveu seu nome Anita
Em um espelho de pó.
Pra pintar a sujidão.
E não mais a eternidade
A deixou a ela só.

E mesmo um pano passando
Lhe espanasse o escrito,
Lhe apagasse tal mito
Nunca magoava o lembrando.

Mesmo que muito esfregado
Não se desmancha o passado
Se não se o orgulhar.

Quando agora lá voltar,
Ela já décadas na mão
Não são cacos que vai ver
Que lá realmente estão.
É a Anita a escrever
Um dia recordação.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Poema ao saber

Por fim, sabedoria
Por fim mas não por fim
Deves saber que conhecer
Era mais que sonharia
Ler no pedaço de mim.

Tropeçar-te, meu saber
E não te vendares
Com orgulho de quem sabe
Bastou sorrir para ocupares
Conhecimento qu'em mim cabe.

Jamais julguei, saber meu
Saber meu porque o desejo
Ser real qualquer desejo
De que saberes quem eu.

Mas soletras sem errar
Meu nome e letras tuas
Sabes porque me foi dado
Quem antes de mim carregar
No tempo de rochas nuas.

E sinto-me abençoado.

Nunca sonhar deixaria
Que tal sorte me sorria.

De ser teu amigo, sabedoria
Sou teu filosofia

quinta-feira, 29 de abril de 2010

205

Todos os dias vou e percorro
Sem ser eu mas rodas andando
A mesma estrada do morro
Que não leva a lugar nenhum.

E nunca nada vem mudando
O autocarro é o mesmo um
O condutor é imune aos anos
Viajando os mesmos fulanos.

E porque tudo é sempre igual
Todos os dias não há final.

Se um dia houver um acidente
Foi do sono que se esqueceu
De não sonhar, passar à frente
E contornar o que se pode viver

Pode o sol retrocedeu
Que não há motivo de o ver.
O sentido é diariamente chegar
Onde amanhã se há-de esperar.

E assim quietos vivendo,
Nunca chegaremos a envelhecer
Porque quem nunca foi vendo
Que vida tem para morrer?

?

                               Se ser
homem for
um conjunto
visceral
e uma
massa viscosa reagir
logo a estímulos robô
alma não existir aqui
nem há cavidade dela
for ser química nada
nem este coração mais
que bombear de ar
sendo assim
certo recuso
ser um homem
quais enzima
sinto só meu
nenhum destino
serei simples
unha do pé
e nem o chão debaixo de mim é só terra ou cimento sem nome
nem ser ele próprio, é pisado de memórias e quantos sonhos
poeira de estrelas que sou mas só cá dentro, as coisas têm
muito mais do que números a explicar porque se mexem e que

Malmequer

Meu pequeno malmequer
Que te vês um girassol
O percurso que o sol der
Achas qu'é por teu mandar.

Mas é o nascer do sol
Que te lembra de acordar.

E se alguém te depenar
Querendo mal ou querendo bem
Hás-de sempre escutar
Que foi bem que te quiseram.

É a vaidade que te vem
Pelo astro que te deram

(Ser vaidade é impor
O brilhar firme flor)

E se um dia o sol esconder
Entre nuvens duvidosas
És um pranto por perder
O que sonhas lá demoras.

Lembra as tuas belas prosas!
Ficas tão feia quando choras...
Mal-me-quer bem-me-quer
Mal-me-quer bem-me-
Mal-me-quer bem
Mal-me-quer
Mal-me
Mal

quarta-feira, 28 de abril de 2010

voouuuuuuummm

E que pressa
De fazer logo tudo
Sem que mal meça
E correr pra todo o lado
Tempo não impeça
Suado e mudo
Calado suado
E as tarefas dei
xar só a meio
Tantas que quero sei!
Pra depois voltar atrás.
Vejo aquilo e zás!
Que lento freio
Hei-de me prender
Se o que eu quero é viver
Viver o dia inteiro
Não dois segundos
A encher fumeiro
Churiços sem fundos
Há sempre pra encher!
E quantos enganos
E assim desperdício
É meu rasto de chamas
Porque é vício
Querer todos os panos
Pra fazer miles camas.
E se cozendo este fio
Olhar pra um canto
Logo salto e que rio
Por querer assim tanto
E não ter um pintelho
Nem tempo para nada
Pra viver rápido
E lento ser velho.
Rá jápido!

Não fiz nada
M
as tentei cada

terça-feira, 27 de abril de 2010

Fogo no cu

Debaixo da cadeira onde esperava
Pacientemente bom bombeiro
A pressa acendeu um isqueiro
Só pra ver se o fogo pegava.

E eu sincero e nu
Ateou-me o fogo ao cu.

Calor do atraso!
Tanto pra correr
E o rabo raso
De andar a arder
E água nem gole
Pra me abrandar
Pensar? mole!
Só sabia soprar
E de olhos em chama
Como desviar
Quem se atravessa
O sangue derrama
Levava na frente
Quem não afastava
Colado, demente
Aos gritos pimenta
Pupila magenta!

Mas belo de esperançoso!

Por fim se esgota a reacção.
Cheguei demasiado adiantado.
E o que me tinha a fugir agarrado
Não era belo nem não em vão
Era um erro de incêndio veloso.

Zimbabwe

Se é o sangue que procuras
O sangue dos inocentes
Então arma-te, forca.

E se ignoras amarguras
E morte a quem mentes
Então, cruel, forca, forca.

Se desejas na tua armada
Crianças de mão cortada
Ri-te apenas e forca.

Pra violares imaculada
A bondade deste poço
Vais precisar de forca
E duma corda ao pescoço.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

2012

E se eu soubesse bem sabido
Que partiria em dois anos
No dia do dia menos comprido
Para o submundo oceanos?

O que faria eu agora
A sonhar o outrora
Se o outrora tem prazo?

Tens seiscentos dias e tal
Pra correr o que der caso
Porque quem por gosto corre
Não cansa, mas com que final?

Chegar a horas, suor escorre?

Até procurar sombras da glória
Sumo sentido, perde o sentido
Porque se apaga a história
Alinhad' universo esquecido.

E ajudar África da fome
Dar a mão aos de mão roubada
Para quê, se não tarda nada
Nem rico nem pobre come.

Se souber o mundo a romper
Vou correr não porque agrade
Vou para as fontes do prazer
Envergonhar o licor de um Sade.

Porque se o mistério não haver
De um tempo a parecer infinito
De que é que vale a pena ser
E querer marcar o mundo a branco
Se basta o tempo de querer franco
Para ser pó de meteorito?

25

Faz hoje trinta e seis anos
Que podia o pover morrer
Pelo poder de uma ideia.
A ideia de eu poder hoje
Escrever aqui quanto quiser..

Mas não morreu ninguém.
Protegido o coração
À lapela por cravos,
Não foi derramada gota de sangue.

Os que tinham a morrer,
Tantos,
Crucificaram-se antes disso
Compraram com a vida
Liberdade que não usaram.

domingo, 25 de abril de 2010

Cavaleiro de malta

O meu sonho não era ser bombeiro
Não era trabalhar sem uma falta
Feliz casamento inteiro.
Era ser um cavaleiro de malta.

Um cavaleiro quando há aviões
E armas que matam morridos
Vou servir que inquisições
Em que mares desconhecidos?

Nobres e justos, calado o temor
Combatendo ao bem contra a dor
À espada de ser Deus primeiro

E eu não quero ser cavaleiro.
Mas só se cavalga num sentido
Por ser exagero querido!

Vidagem

Tenho esperado o comboio seguinte
De impaciência atrasado
Pimponeta paragem em vinte.
Trago atrás de bagagem
Roupa suja do passado,
As gravuras de outro lado
Instruções para a viagem.

Agarrada ao corpo a roupa
É o único bem que me poupa
O Sr. fado revisor
Indeciso ao desamor.

Para onde a seguir
Eu me hei-de perder?
Que estação do porvir
Hei-de querer conhecer?

Um viajante corropio
Ignora a quem cruza
Não quer saber o que usa
Porque é ele a multidão.
Quem é que grava se sorrio,
O que importa gritar não?

E quando encontrar enfim
Lugar onde me saiba a ficar
E o preencha como um lar
São horas da linha do fim.

Escadas para o paraíso

Qualquer sonho que valha
Volátil, quais fadas
Acaba, num dia que calha
Quando já nem lembramos
Por tombar pelas escadas
Para o térreo andar
Onde querendo tocamos
Sem haver beliscar

E a beleza que exibe
Deitado em cima do sol
Racha descendo declive
A sangue pelos degraus.
Afinal é áspero e mole
A imagem é tela pintada
Em pontas de pincéis maus.

Quando se puder tocar
Na magia de um nosso sonhar
Tem-se a aura rasgada.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pendulum

Cai em pêndulo meu braço
Do limiar das nuvens colchão
Cai num abismo ausente de chão
Cama de algodão de ar escasso
E balança para trás e diante
Para de médio comunicar
Com os que tarda visitar
De som ressonar ofegante
E dizem que se é para estar
Em vida assim imóvel deitado
Num lugar tapado ao calor
Saco de primeiros socorros
Mais vale vir adiantado
E gastar tantos aforros
A passar por Cérbero sem dor
Porque pra respirar o quarto
É rotina de pêndulo

Mãos


De espelho em frente etnerf me olhepse eD
Tentava a mim dar-me a mão oãm a em-rad mim a avatneT
Mas só tocava as pontas dos dedos soded sod satnop sa avacot ós saM
Do reflexo polido rente etner odilop oxelfer oD
Era em vão oãv me arE


Falhanços azedos
falhanços azedoS
E lembrei-me a direita
e lembrei-me a direitA
Que podia a esquerda juntar
que podia a esquerda juntaR
Entrelaçada estreita
entrelaçada estreitA
De me ajudar
de me ajudaR

terça-feira, 20 de abril de 2010

Gregório

Estive encostado à morte
Tão perto de um abraço
À distância de uma sorte
Julgamento pelo dado
Que de saber alívio escasso
Podia não ter acordado.

A foice a um passo
Mas deitaram-me de lado.

Pois me girei sem querer
Ao abismo que avançava.
E o mal que respirava
É o ar de querer viver.

sábado, 17 de abril de 2010

Ab Sinto

Dionísio trazia-me de mão dada
E cambaleando perseguíamos
Risos e cornucópias tropeçando do nada.
E cantando dançando íamos
Lançando flechas fluorescentes
Que lhes passavam lábios rentes.

Então os homens de negro surgiram
Do outro lado da estrada
Dionísio e a emboscada.
Recebeu-os e mirando-me riram.
Eu gritavam "MIRAM-ME", "MIRAM"
Entre os pirilampos a namorar.

E sentei-me num banco a conversar
Com a paragem do autocarro vazia
Porque era noite e leve o ar.
Eles decidiram por fim o plano
Duas gravatas e eu tudo esquecia
Aquele flash vermelho americano.

O resto eu não recordo.
Mas sei de testemunhas fantasma
Que ET pegaram por mim no cabelo
E como viram que não engordo
Usaram-me no comprimido da asma
Para fazer rir a ponta de um novelo.

E puseram-me sentando a caçar
Embriegado de pontaria
São Joões que voavam à frente da lua
E não a deixavam iluminar.
E acordei já na cama do dia
Despido de mim e memória nua.

Eu quero.

Se tiver tentado,
Não faz mal que não consiga.
Para que o remorso não diga
"Voltemos ao passado"

E se já tentei
E com tudo o que não sei
Se a miragem fugir
Não foi por não a perseguir

E se for tentar falhado
Não foi em vão o suar
Foi o sair do mesmo lado
Estrada para outro lugar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

aaaaai

      Não
Não sou eu a debruçar-me
Assim zonzzzzz
zzzzzzz
zzzzzzo
Sobre gemidos sem sentido
nenhum.
É o mundo que
corcunda
Não para quieto
Surdo e anal fabeto
Levanta-te e eu prometo
Que te ajudo e te dou a mão
E te pinto cor no preto
E te alegro e espano o pó.
Mas tens de ser tu só
A sair desse caixão.
Um bandido que me esfaqueava
Arranhou-me a ponta do nariz
Enquanto tomava balanço
Para furar outro golpe.
Fiquei completamente furioso,
Sangro constantemente do nariz.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Certo dia sonhei tanto
Em abrir asas e voar
Em cima do meu manto
Até o sono chegar.

E quis quanto impossível
Ter nos pés um dirigível.

Tanto que no dia a seguir
Não acordei alado
Mas tive vista para ver
À janela, do outro lado
Uma árvore a subir
Sem final se entrever

segunda-feira, 12 de abril de 2010

movs

Três meninas como três tartarugas
De salto alto pavoas
Caminham como que sobre brasas
Em ânsia de usarem verrugas
Quando é a brincar que são boas
Fingindo galinhas com asas.

E patarinham em fila indiana
Porque é nelas amizade cigana
Vigiando a todo o instante.

Sal ti tam gri tan do de bi co
Da noi ta da que vem em di an te
E fa lam assim com um pi co
Em ca da pa la vra a tre vi da

E lá vão, abaixo avenida
Como peregrinas a Meca
Para o promíscuo da discoteca

domingo, 11 de abril de 2010

Falta

E se a esperança é a última a morrer
Por ser branca e brilhante
Afiada diamante
Usa-la-hei de escudo ao peito
Na guerra que vem a amanhecer
Investindo em mim a direito.

Que de sangrar tire proveito.

E na mais frente da batalha
Quantas flechas rechaçar
Quantas hei-de, voltando, apanhar
Pra que tornar valha,
Pra trazer a alegria
A quem mais que grades não via.

E se o combate não for ganho
Se forem amigos que apanho
Então quem tombou foi o sonhar
E eu cabisbaixo a regressar
Ao que tomou de assalto
O fascínio num rompante.

Mas alto
Ouvem-se as sirenes, distante

viagem de metro

Custa-me aguentar.
Sentado perdido no meio da gente
Custa-me só de pensar
O tempo que falta pra cumprir o repente.

A dor de me ter algemado
Ao que apodrece dentro de mim
Num túnel que é circular fim
Vem sentada ao meu lado.

Torturado que é reter,
Por ser aqui esse meu dever,
Os espinhos desta viagem
Reter a que trago bagagem...

Mas quero lá saber,
É melhor sujar-me que morrer
E mesmo que não vá só
Para já não sei quais destinos
Não suporto o peso...

AHHHHhhhhhh
Que vontade de fazer cócó..

Fui insultado e preso
Dos intestinos

enquanto a manhã não chega

tunds
São os corpos nos outros carregando
tunds
No escorrega do suor e o fumo espesso
tunds
De um espaço tão apertado dançando
tunds
Que a música se afunila no ar
tunds
E os batimentos vêem-se fora do avesso
tunds
São os olhos a deslizar
tunds
Por onde inebriadas se têm as mãos
tunds
São os risos de danças sem tentos
tunds
E perder o medo de apanhar nãos
tunds
São os pequenos momentos
tunds
Que se marcam no diário da memória

Se vale o prazer em troca de glória?
Quem cumpre sonhos vai-se esquecer
De que os têm e surgem mais
E o sacrifício de tanto querer
É resumido ao marinheiro no cais
Que vê o navio partir adiantado.
Dura dois minutos ao horizonte
Onte onte onte onte
O tempo de ter chegado
A ver vénus no monte
tunds
Da cave da discoteca
tunds
Onde não há horizonte
tunds
Só impulso de peca
tunds
Uuaaaauuu!
tunds

sábado, 10 de abril de 2010

Céu azul

É tão grande o céu azul, estendido. Onde acabará e 
lhe pegam nas pontas, nunca foi dormido? Balões de ar d
e voltas ao mundo sobem contra a cor, estampados no cim
o fundo de quadros. O céu é tão alto. Se caminhamos no
chão como chegamos de um salto? Há fagulhas de nuvens b
rancas, resquícios de quem tentou. Resquícios da chuva
de quem chorou. Como voar ao colo de uma andorinha e ch
egar ao leito delas? A navegar no reflexo do mar em jan
gadas sem velas? A espessura de um infinito, o telhado
de lares e de gritares, gritar o que não foi dito debai
xo da leveza dos mares. Não é a seda do céu o limite. É
possível intocável, o remetente de um convite, impossí
vel abraçável. Nunca limitou, guiou os sonhos pelas tar
des de sesta no berço do colo do sol, o motivo para esc
olher entre subir ou descer um tempo tão mole, tempo de
ferro até que o chão engole e vinte e uma gramas sobem
aladas, são os pigmentos das lágrimas azuladas com o q
ue cobriram aos sonhos a moradia, o destino inalcançáve
l do que um pingo de chuva queria voltando para trás, p
ara onde condensou de um pedaço da piada de viver, pode
r chorar e poder saber. Saber o sal, manto da calma que
é o céu a cobrir os que dormem para sonhar sem haver m
ais acordar, sem final e o sabor doce deste sal



balão
nuvem
nuvem

nuvem




E ainda assim tudo o que choro vivendo é o medo de não to
car no algodão doce do céu

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Cantiga

-Boas tardes. Sirva-me por favor doisk
ilosd
evinho
-Mas o vinho não se serve aos kilos meu senhor...
-Então ponha-me d
o
i
s
m
e
t
r
o
s se não se importa
-*Ah seu espertinho, que já vais ver, vou fazer uma linha
de dois metros em cima do balcão* Aqui estão
-Então agora embrulhe-mos.

Lapso

Rastenjando no fumo
Do ruído da cidade
Sem razão nem rumo
Só semáforos de atraso
A ver passar a idade
No ruir dos prédios
E rotinas de assédios
Correndo em roda
De vazias rotundas
Seguindo de moda
Antíteses profundas
E tanto bréu

Que ningém se lembra das estrelas no céu

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ghost of you

É preciso sorver-te os sorrisos
Um por um, todos.
É preciso plantá-los e vê-los nascer
Qual pai presente a teu lado
Feliz por seres feliz.

E é preciso limpar-te todas as lágrimas
Que te queimem a face rósea
É preciso podá-las
Sem lhe cortar a raiz
E ver-te florir, girassol.

Apertar-te nos braços.
É preciso que vejas entre eles
O aconchego do lar
Que partilhamos a jogar
Ás escondidas e perdemos.

É preciso aconchegar-te os lençóis,
Que sejam níveos e perfumados,
É preciso pousar-te as boas noites
No rosto de sossêgo
E ver-te sonhar até de manhã.

É preciso não me esquecer
De não perder um segundo sem ti
Por dois minutos sem rumo.

Um dia podes não acordar
E estar sentado à janela
O fantasma de ti.

E os abraços que te agarrar
E os sorrisos que te tentar
Gélidos, não os sentirás.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

VS

Hoje notei que quando olho para trás
E me vejo na relva senado
Ao sol de um piquenique e um cabaz
De onde tiro a toalha que é mesa
À beira do trilho do passado
Vejo sempre alguém a meu lado
A tornar a estrada acesa

As curvas mais felizes do caminho
Foram quando não caminhava sozinho

E quando andava calado
Era feliz mas era igual
Todo o caminho era o tal
Mas não o tenho lembrado

Fora do meu trilho certo
Não vou onde quero mas acompanho
Onde o caminho é fácil e aberto
Na selva, feito de filas indianas
Onde já se ganhou o que ganho
Destravado, sem árvores nem lianas

E os sonhos que eu me vestir
Como mos podem ajudar a perseguir
Se não sabem quem são
E me amansam a volição?

Dos almoços que foram tantos
Ficam fotografias desfeitas nos cantos

De que vale o vivido vazio
Alcançando o porque nasci
Se nós, sem ela nem ti
Chegar à foz que sou rio?
E ter memórias pra dizer
E haver alvos pra correr
Que pude realmente viver

domingo, 21 de março de 2010

 Um padeiro atropelou
O pobre juiz na passadeira
Diz-se que era a bebedeira
Que viu e nem parou
Um empregado deixou
De propósito o forno aceso
A filha do padeiro tombou
Por azar, o pé preso
As pequenas magras crianças
Não tinham o que comer
O padeiro tinha meses a dever
Já não tinham poupanças
O menino chegou a chorar
Um colega pediu-lhe pão
E ele não lho quis dar
Ficou esmurrado no chão
A contínua dos recreios
Chorava na casa de banho
Seu irmão pobre, sem meios
Não declarava os seus ganhos
O meritíssimo juiz
Não ouve o que a família lhe diz
Declarou o homem culpado
Ele que nunca tinha roubado

Previsão

Primeiro deixei de querer
Lento como uma constipação
Deitado de dia na cama.
Depois deixei de entender
Que me pediam para levantar
Esquecia-me até de olhar,
Não sabia como se chamava
A rua onde morava.
Depois já nem pensava,
Nem sabia ser.
Deitado, já podia morrer.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Rosa dos ventos

Sumo de esmeralda

Há tempos tão distantes
Numa tarde de Verão
Sem datas relevantes
Brincava eu aos assaltantes
E decidi escavar o chão
Para esconder o tesouro
De moedas tão ricas
Que roubara ao Rei Mouro
Um punhado de caricas.

Encontrei lá o fundo
De uma garrafa partida.

O chão, cresci, é imundo.
O tempo hoje é tão caro,
Não vou escavar a avenida
Para encontrar, reparo,
Uma esmeralda esquecida.

Guerra

Houve uma grande guerra
Que ficou cinco a zero.
Deixou por terra
O que ao país quero,
O domínio e o rei.

Mas eu não participei.

E se eu tivesse lutado,
Ocupado um lugar vazio
Da frente do nosso lado?
Se mais um soldado
Fosse o que faltava
Para completar a trincheira,
A trincheira que faltava
Para uma unidade inteira,
A unidade que chegava
Para completar a armada,
Não seria a derrota mudada?

E se os gritos que urraria
Despertassem camaradas
E se a ajuda que prestasse
Lembrasse a alegria
Às tropas desamparadas,
Teria outro desenlace?

Perdemos quatro a zero.

terça-feira, 16 de março de 2010

Ardem-me os braços.
Tinha poucos espaços.
Carreguei a vaidade
De um sonho pesado,
Fiz força da vontade
Muito tempo seguido.

Agora assim cansado
Nem querer vejo a meu lado.

Sonho vogal

De hoje em diante
Levarei mundial avante
Pelas formas fenomenais
Como escrever só com vogais.
A tanto esforço e tanto crer
Assim sei que vai ser:

Obrigado amáveis admiradores!
Estragam-me em afabilidade.
Anseei anos alcançar isto,
Este emprego à escrita,
O amo, é inato ao eu,
Está espelhado identidade,
Eurico Alves Ulisses.
A inflexibilidade em abrandar
Empurrou-me até aqui.
Ainda assim, em espaços arde
Ao organismo, é essencial pausar
Um intervalo ajuda a andar.
Outro intervalo faz é bem.
Importante é estar fresco
E assim alegre avisto
Argutamente o que mais quero.
Só não podem as pausas
Tornar-se a regra do dia.
A força de vontade é fácil,
Apoiada às imagens éden,
Se Pensarmos No Que Tanto Queremos

domingo, 14 de março de 2010

1 mensagem recebida

E se eu amanhã acordasse
Inebriado de ter ouvido
Folia que não passe,
Pela vez primeira,
Tanto tempo passado,
Que até me tinha esquecido
Que o sonhava noite inteira,
A cor dessa voz
Para mim alvejado,
E de novo despido
Me lembrou de querer nós...

Ah, se eu acordasse amanhã
Com o som de uma mensagem
Que me atirasses pela janela
Tão cerrada, tão vã,
E visse o nome da tua imagem
No correr das cortinas.
A manhã seria bela
Incrédula, leviana

Vigiando atento o visor
Não muda imóvel de cor.

Vou dormir.
E esperar que ao acordar
Me doa a barriga a rir
Do que bebado despertar

Zzzzzzzzzzzzzzzzz
(que horas serão?)
Zzzzzzzzzzzzzzzzz

sexta-feira, 12 de março de 2010

Chucky

Senhor Pai Natal,

Aquando do meu fabrico
Penso ter sido feito mal.
A voz que deveria falar
Só fala quando replico.
Não diz palavras queridas
Como suposto ao embalar.
Está escrito nas instruções
E não é voz de canções,
É voz grossa de feridas.

Quando devo caminhar
Por ter uma pilha nova
Corro para um canto só,
Atropelo a quem passar,
Sem cuidado nem dó
E também isto é prova
De que não estou acabado
Como estava programado,
Por meu sozinho prazer
O meu sensor deixar de ser.

Sou um nenuco normal
De imagem angelical
E olhos azuis claros,
Pele suave e real,
Sou dos bonecos mais caros,
Para ensinar a bondade
Em tão breve idade.

Mas no meu interior
Construíram ao contrário.
Porque desprendo a dor
Em vez de dar amor.
Dentro do armário
Rasgo os outros brinquedos
Sem razões nem enredo.

Eu que fui feito para ajudar,
Espontâneo a magoar.

E já ensinei a menina
Todas as asneiras.
Ela, tão pequena,
Esctuando histórias de terror.
Tirei-lhe até a vista
De plástico sem estribeiras.
Sou um boneco egoísta
Por querer ser um senhor.

Por ser um brinquedo ruím,
Só querer saber de mim,
Para que não hajam mais estragos,
Recolha-me desfeito.

Troque-me por um direito
Os portes eu pago-os.
Muito lhe agradecia.
(Estou na garantia)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Gonçalo diz (20:40):
Olá
Gonçalo diz (21.10):
Vamos sair hoje à noite?
Gonçalo diz (21.11):
Como tinham dito...
Gonçalo diz (22.00):
Onde estão todos?
Gonçalo diz (23.27):
Não incomoda o silêncio de casa?
Gonçalo diz (00.02):
A mim incomoda-me muito
Gonçalo diz (00:03):
Estou mortinho por conversar
Gonçalo diz (00:03):
Ninguém?
Gonçalo diz (01.24):
Não há ninguém que não tenha sono?
Gonçalo diz (01.57):
Estar sozinho é mesm horrivel
Gonçalo diz (02.36):
Costumam ter medo de noit?e
Gonçalo diz (02:36):
*noite
Gonçalo diz (04:09):
Gostava tanto de falar com alguém
Gonçalo diz (04:10):
Era um alívio
Gonçalo diz (04:45):
Gostava mesmo de passar lá por alguém
Gonçalo diz (04:45):
E poder dizer mais que olá
Gonçalo diz (04.47):
mas o q falta afinal?
Gonçalo diz (05:24):
ha alguem que precise d um amigo?
Gonçalo diz (05:25):
Neste altura, vou ser o mlhor amigod e sempre
Gonçalo diz (05:40):
PORQUE E QUE NINGUEM RESPONDE?
Gonçalo diz (05:41):
TOU-ME A PASSAR, EU NAO FIZ NADA!
Gonçalo diz (06:05):
Esqueçam
Gonçalo diz (06:05):
Que se fodam.
Gonçalo diz (o6:44):
n8tugnhunhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Anúbis diz (12:34):
Gonçalo, estás aí?