sábado, 3 de julho de 2010

tac


tac.
tac.
tac.
(Entras estrela na sala
Como um relógio de corda
Como um gatilho a premir)
tac.
tac.
(Entras e vendo se cala
Pasmando sentada esta horda
Deleite ver-te a luzir)
tac.
tac.
tac.
(Estalam os saltos o ar
Estalam a tinta no tecto
Estalam cantando ecoar)
tac.
tac.
(Trazes o que é incorrecto
Lascivo, perigoso, encanto
Descobres desejo num santo)
tac.
tac.
tac.
(Vens de aura vestida
Aura do charme de fama
Camisa tigresa invertida
Saia de lençóis da cama)
tac.
tac.
(E longe intocável pareces
Andando em dois pedestais
Como cinema de preces
Brilho de actrizes astrais)
tac.
tac.
(Eu que te vi já de perto
Sei que és não bela demais
Mais que um felino desperto)
tac.
tac.
tac.
(Transpiras tão forte feitio
Mordaz de jamais moldar
Mudavas o curso de um rio
Se o quisesses atravessar)
tac.
tac.
tac.
(Nota-se, vaidade de olhar
Nota-se de ver-te a entrar)
tac.
tac.
(E eu vejo-te maravilhado
Por entre folhas que estudo
Vejo-te vislumbres de lado)
tac.
tac.
(Como se do teu olhar mudo
Fosse eu ser contemplado)
tac.
tac.
(Teu corpo curvo e esguio
De lento, lânguido andar
És que tu própria mais alta
Vejo-te e sei desejar)
tac.
tac.
tac.
(Mas por não sentir eu o cio
Vejo o que não te dão falta)
tac.
Vejo-te o lábio a tremer.
tac.
(Vejo-te a tu própria ser)
tac.
tac.

1 comentário:

  1. Ai onde anda essa cabeça... Mas tá incrível, continua a escrever coisas destas.

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