segunda-feira, 26 de julho de 2010

Querio diário

Sempre que marco o diário
Com ontem-claro de tinta
O vento vira-me a página.
E eu sento-me ao contrário
Para que o vento não sinta
Que vou viver esta página.

Mas ele matreiro dá conta
E leve vestido de brisa
Vem uivar de outra ponta.

Então escondo-o na camisa
Amarrado entre os braços.
Não vou repassar o passado
Não vou repisar estes passos
Com tanto a ser caminhado.
Vou desfrutar deste vento
Vou sorvê-lo todo, violento.

Ele torna num urro investindo
A roupa ao corpo m'arranca.
Não! Guardo esta folha franca
Fechada na força da mão.
Ele rompe insiste investindo
Cravo-a na rocha do chão.

Nem que derrotes o mundo
Nem que lhe rasgues raiz.
Não vou atrasar um segundo
A folhas deste caderno.
Eu escrevo o que ele diz
Eu entorto-lhe as linhas
Eu encaixo-lhe o esterno.
Nem uma vírgula nem ponto.
Não quero memórias já minhas
Nem o final deste conto.

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