domingo, 18 de julho de 2010

Cama dupla

Dormiste em cima de mim.
Estendeste-te sobre mim leito
Disposto a ranger assim
E pesaste-me ao corpo tanto
Num quartinho tão estreito
Por nos escombros do escuro
Imaginar o encanto
De me fazeres ao futuro
Ao acordar de manhã.
E noite passei pouco sã.
Bastava estender o braço
Bastava afrouxar persistir
E engolido teria o espaço
Da base cálida das costas
Sopé do morro a cair
Sobre o vale entre as encostas.

Quieto nada ousei.

Quedei-me a contar os minutos
E depois contei as horas
Contei o respirar que demoras
Por ponteiros não resolutos.

E sem te dar conta, contei!

Mas era eu tanto medo
Que sol acordasses cedo
E trouxesses a hora de levantar.
Fiquei a contar-te à espera
Cravado na crença sincera
De sentir tua mão escorregar.

Escorregou só a hora.
De me eriçar despertador
Tempo de trancar o furor
Fazer a cama, ir embora.

(Dormiste em cima de mim.
E pesaste-me tanto o desejo
Que fiquei espalmado assim
A rodar pra encontrar
Outra noite e outro ensejo.
E quando me deito agora
Sinto as costas estalar
Onde te imaginei pousada.
E conto quando demora
Fazer-me a mim, tua cama
Ou correr ao sol que me chama.

Como queria ter dormido debaixo de ti!)

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