terça-feira, 6 de julho de 2010

Perdi-te (*)

Perdi-te (*) não sei como nem quando
Talvez atrás de um meu armário
Quiçá nas fundas caves do sofá
Ou quando virei o tapete ao contrário
Talvez dentro duma chávena de chá.
(Quando te fervia para recuperar)
Ou no lixo que me esqueci de levar.
Perdi-te não entendo como nem quando.
Nos lençóis que não íamos trocando?

Afastei os móveis e espanei poeira (*)
Talvez te deitasses entre dois grãos.

E desmontei o sofá uma tarde inteira (*) E de lá provei todas as migalhas
(Migalhas de quando dávamos as mãos).

Procurei todas as frinchas (*) e falhas.

(*) E tentei ver-te dentro dum copo trancada
Porque os viravas sempre ao contrário

E estilhacei a porra do armário
À procura de um vestígio de rires
De rires com uma chaleira entornada
E com o fedor do lixo da cozinha
Quando te trancaste a dormir sozinha
Numa cama onde cabias na almofada.

Procurei-te em cada polegada da casa
(Como se não te quisesse encontrar
Eras uma miragem que o olhar vaza).

E agora que te suspiro anunciar
O teu futuro pelas folhas de chá,
Agora não há modo de te encontrar.
Antes, quando cansava e fugi de lá
Encontrava-te onde calhasse o olhar
Como se gigante trepasses o mundo
Aparecias no horizonte ao fundo.

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