segunda-feira, 24 de maio de 2010

Rancor, falta de culpa e dor

Um carro não parou na passadeira
E eu não a pude atravessar.
E o autocarro que estava a chegar
Decidiu não esperar por mim
Comigo correndo à sua beira!

Sim, brancas listas sem fim
Tão perto e deixa-me aqui assim

E decidi célere telefonar
Para um táxi que me viesse buscar
Mas não tinha o telefone comigo,
Nem na mochila nem no umbigo.
Alguém mão leve mo tinha tirado.

E eu tão de susto como suado
Corri porque era a última vez
Entrei num café e implorando pedi
Uma chamada, no chão ajoelhado
Uma chamada, nem duas nem três.
O dono recusa e ainda se ri
Esfregando as mãos atrás do balcão.

Mas lembrei-me da minha carteira
E estendi-lhe dez euros que tinha.
Esfregando mão não disse que não.
Chamei um táxi que nunca mais vinha
Porque atravessou a cidade inteira.

E quando parou pra mim ao passeio
Eu já de alívio a ser suspirar,
Surgiu um homem de fato mas feio
Que entrou sentado no meu lugar.

E lá consegui, mas viram-me grego
Chegar ao lugar de horas passar
Onde uma colega me veio anunciar
Que eu acabava de perder o emprego.

E agora penso atolado em rancor
Que se o carro visse a passadeira
Tinha sido tudo outra maneira.

Rancor, falta de culpa e dor.

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