segunda-feira, 31 de maio de 2010

GéneSIs

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"E disse Deus: Haja luz; e houve luz."
Iluminou-se brilhando o negrume
Rasgando-o um ruído que reluz
Do desembainhar de seu justo gume.

Nascendo lá longe o segundo dia,
Deus criou o céu, a terra e o mar
Os urros de um tornado, melodia
O balançar duma flor assobiar.

"Depois fez Deus os dois grandes luminares"
O maior nos havia orientar,
O lívido, reger a força dos mares.
Mal chegasse um, outro silenciar.

Soltou peixes desde as ondas ao fundo
Que se falassem por canções d'embalar
E pôs as aves a vigiar o mundo
Que avisassem em música o ar.

"Disse: produza a terra alma vivente"
E soou o tremor forte das manadas
O cantar de uma cigarra contente
Notas da voz de uma zebra sopradas.

No sexto dia, Deus desenhou o homem
E harpas afagadas por sua mão
Desenhou vozes que as palavras tomem,
A paixão pela tristeza dum refrão.

Ao domingo, Deus pôde sim descansar.
Deitou-se nos asteróides, sua cama,
Habituado era a não escutar
Mais que vácuo calado, raios gama.

E dormindo enfim escutou deleite
A maravilha porqu'havia moldado
O barro amorfo em um globo aceite,
Música, motivo deste respirado.

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